sábado, outubro 02, 2021

Sábado, 2.

A vida política anda tão confusa, tão violenta e, simultaneamente, tão choldra. Não há nível nos governantes, só os partidos contam, por eles até se estripam numa guerra onde todos gritam e ninguém tem razão. O país vai definhando aos poucos, mas eles não se dão contam porque não é por ele que lutam mas pelo poder tout court. Nos tempos em que tínhamos jornalismo independente e lúcido, ele fazia o contraponto e a informação real chegava a toda a gente a nós a liberdade de julgarmos os factos. Hoje os jornais são uma capoeira onde cada galo faz e desfaz a história diária segundo a sua cor política, nos chamados “artigos de opinião”, como se o jornal não tivesse identidade nem linha jornalística definida. Até admito poder haver mais liberdade ou a sua ilusão, o facto é que o leitor, na marmelada que lhe servem, fica confuso e opta por seguir o que se escreve nas redes sociais onde o cheiro é nauseabundo. Não foi este jornalismo que exerci. No meu tempo, cada notícia, cada acontecimento, era escrutinado de vários ângulos, sob a batuta sábia do chefe da redacção. Toda a informação que do jornal saía, tinha sido antes confrontada com outros órgãos de informação e ao chefe competida, depois de ler cada bloco de texto, se devia ou não ser publicada. Hoje é cada cabeça sua sentença. Quanto mais ideológica e partidária, melhor. Os acontecimentos são vistos a analisados segundo a cor política de que galo. Chegámos a isto. 

         - Eu tenho uns quantos que vou seguindo e são adeptos de uma espécie de política evolutiva. A estrutura partidária está lá, mas com frequência fogem dela para se centrarem na notícia crua, na ocorrência real, com independência e objectividade. É o caso, entre muitos outros, de João Miguel Tavares. Convido os meus leitores a reler o que aqui escrevi sobre esse lamentável caso da troca do Chefe de Estado-Maior da Armada (quinta-feira, 30) com o artigo de opinião do jornalista no Público de hoje.