sábado, outubro 09, 2021

Sábado, 9.

“Governo dá 46 cêntimos por dia a função pública” – título de capa do Correio da Manhã. Sendo um país rico, com o PIB a crescer como diz a propaganda oficial, o que se pode dizer dos socialistas a par de tantas outras coisas, é que são somíticos. 

         - Já agora o meu encontro ocasional de ontem no Corte Inglês, quando desci da esplanada do restaurante onde estivera a almoçar com o Carlos R. regressado de Angola, com os socialistas, pai e filho, ou melhor Karl Marx e André. O pai está intacto na sua dinâmica blá blá blá, que pode mudar num ápice, como sempre o conheci; o filho tendo terminado os anos que a lei concede aos presidentes de junta, disse-me que ia a partir de agora dedicar-se aos negócios. Respondi-lhe: “Fazes bem. Eras mal empregado na política.” Riu-se naquele sorriso que nos cobre de simpatia e surge de uma espécie de timidez acumulada na meninice superprotegida que foi a sua, embora me pareça que um qualquer travamento subsiste que o impede de desabrochar completamente – o grito que o porá no centro de si está por acontecer. Já não o via há anos e diante de mim era como se tivesse o mesmo André que eu vira nascer – o homem feito está lá, mas toldado pelos segredos da infância.  

         - Horas antes, tinha estado a tomar café no Vitta Roma com o João. Levei-lhe um tratado de arquitectura para a Marília e para ele uma dúzia de dióspiros. A política entrou de rompante não obstante o pouco tempo de que dispunha para estar com ele. Disse-me que me quer oferecer um livro que estuda, à exaustão, os movimentos de ultra-direita que estão a emergir por todo o lado. Contra-ataquei: “Não preciso de ler isso, prefiro os gregos que sempre me trazem algo de novo. Depois teria de ler os avanços da esquerda que são tão sinistros como os da direita.” E raspei-me para a Fnac do Chiado onde o Carlos já me esperava. 

         - Cavaco Silva veio dizer ao pagode que ainda está vivo e toda a gente se interessa pelas suas opiniões. O farsante é capaz de tudo. Muito do que ele diz no Expresso subscrevo inteiramente, mas não aceito ser dito por aquele que foi o primeiro a usar a política como embuste. Quem não se recorda do seu “Portugal é um sucesso” quando as empresas caíam como tordos à nossa volta; quem esqueceu aquela sua promessa de pôr Portugal entre os primeiros países da UE, com vida equivalente; hoje diz que ”Portugal corre o risco de ser o último dos 19 países da Zona Euro”, quando ele deixou o cargo estávamos, se não estou em erro, no penúltimo lugar ou pelo menos nos últimos. Para não falar nos milhões que durante o seu reinado de primeiro-ministro entravam todos os dias no país e se evaporaram por entre os dedos de empresários que enriqueceram, de agricultores que receberam para destruir a agricultura, banqueiros gananciosos e assim. Portugal não perdeu nenhum pobre na sua governação, e os ricos subiram no ranking ante a estupefacção dos dois milhões de pobres – que ainda aí estão e estarão com os socialistas. Se tivéssemos um governo verdadeiramente socialista, pelo menos uma parte deste número chocante já tinha sido abatida ao horror que devia estar estampado em todos os homens e mulheres que se dizem de esquerda.