quinta-feira, outubro 14, 2021

Quinta, 14.

As contradições são evidentes. O Governo a nível europeu fala da protecção do Planeta, impõe-nos a nós automobilistas uma taxa dita de carbono (e por causa hoje a gasolina chegou aos 2 € o litro),  mas na prática, como se viu na apresentação do OE, apela aos portugueses para que consumam. Quem quiser que engula a pastilha do clima e sua defesa. Por mim não acredito em nada dessas tretas que os governos nos impingem e são os primeiros a não acreditar. Mais: se algum político decidisse pôr em prática aquilo que a donzela sueca reclama e os jovens por moda aplaudem, esse político era pura e simplesmente assassinado. Com esta história da destruição do nosso habitat natural que é verdadeira, anda meio mundo a ganhar fortunas e os Estados a surripiar milhões aos contribuintes. 

         - Desde D. Dinis que a moda dos pobres campeia neste pobre país. No século XII junto aos conventos; hoje de mão estendida pelas autarquias, associações e refúgios, igrejas e instituições da vária ordem. É uma catástrofe natural que ainda por cima dá ordenados chorudos aos presidentes, administrativos e assim. E engrandece o Estado através do Governo da nação. Veja-se os complementos de reforma, subsídios, ajudas, os rios de dinheiro que entra nos sectores da misericórdia de que o OE acaba de dar notícia! Os países modernos e democráticos, não rebaixam os cidadãos com esmolas, estão estruturados para o progresso onde a trabalho é dignificado e a pobreza erradicada. Aqui até o pobre se encosta à esmola e muitos deixaram de trabalhar porque é melhor viver com pouco que perceber que o trabalho dignifica o ser humano. A grande reforma das instituições, não interessa a ninguém porque há um mundo de caridosos hipócritas que se pavoneia entre a misericórdia e a cagança, exibindo a sua importância social através da marca da distinção e supremacia sobre os demais. É uma classe vistosa, abastada, alguns cheios de remorsos redimem-se através das obras caritativas como no tempo de Salazar, Mário Soares, Cavaco Silva, José Sócrates, Passos Coelho e António Costa. Sem falar nesses asilos para indigentes que são os lares, onde pessoas em fim de vida e depois de uma carreira de trabalho, são desconsideradas e deixadas à porta da morte que todos desejam breve a começar pelos próprios anciãos. Segundo o presidente da União das Misericórdias, o Estado só paga 400 euros por idoso; a maioria decerto nem isso ganhou quando no activo. A pobreza é negócio para muita gente e humilhação para milhares aqui e milhões pelo mundo fora. Bem sei e honro aquelas e aqueles que o fazem por dever cívico ou religioso, e para esses não tenho palavras que junte para lhes agradecer. O seu desinteresse e humana atitude não coabita com a imagem comercial daquelas e daqueles que fazem o espectáculo com a dor dos outros. 

         - Não convém descrer dos homens. A prova está nesta notícia do Público segundo o qual um drone leva comida e água aos cães que ficaram cercados pela lava incandescente que continua a correr nas Canárias há um mês.  

         - A Annie conseguiu meter-me medo. Eu conto. Ontem telefonou a dizer que fazia um frio húmido em Paris e recomendou-me que fosse devidamente agasalhado e não fizesse como em anos anteriores que desembarco na capital francesa em pleno inverno como se o fizesse em Lisboa. Daí ter ido esta manhã ao Corte Inglês comprar umas calças de bombazina, dessas que os velhos usam. Bref. Declinando para amanhã um almoço com a Carmo a que se junta o João, almocei no Vitta Roma, só. Que bem me soube! Não falo do pasto que é sempre mediano, digo do bem que me soube ficar depois estendido na cadeira a delirar. Devo ter dado a volta ao mundo umas três vezes e de todas enchi o cérebro de ideias e fantasias. Uma hora a perder de vista passou. Quando voltei ao restaurante, senti-me próximo do ancião digno que saboreava a sobremesa como se fosse a última da sua vida; ou o casal a meu lado, igualmente vetusto, que parecia sorver a vida no ocaso das horas que deslizam incomensuravelmente para o abismo. Se o barco para o Paraíso ali passasse a apanhá-los, teria embarcado com eles, sereno, abençoado pela vida que me coube encher, apaziguado de todos os sofrimentos, disponível e curioso por conhecer que espécie de luz ou noite ou golpe infinito ou aceno de sombras siderais me transformariam em um ser puro e eterno, livre e inteiro, tudo e nada, esvaziado de mim para todo o sempre...