sexta-feira, julho 09, 2021

Sexta, 9.

A humanidade masculina portuguesa que observei esta manhã da mesa do café, pôs-me a pensar. Falei aqui ontem do novo macho nacional que se depila, arranja as sobrancelhas e possui uns mamilos que tomam saliências que muitas mulheres almejariam. Quando os homens eram o que eram e vomitavam galhardamente “aqui ninguém toca que eu não deixo”, exibiam as origens com os atributos que o distinguiam das fêmeas. Hoje, Chiado abaixo, o que admirei nem sei como qualificar. É talvez uma raça que se desenha já nos alvores de um mundo onde ninguém ganha, igualando-se. Como se esta gente comentasse com prazer a expressão: todos ao molho e fé em Deus. Alguns jovens que passavam, tive dificuldade em os distinguir enquanto seres cujos atributos físicos nos levam a reconhecer se é homem ou mulher. Eu sou um pouco descarado, dou comigo a imaginar como certos corpos medonhos uns, frágeis outros, se envolvem entre lençóis. O que pressinto, todavia, é que se vai instalando uma raça de gente assexuada, para quem só a aparência enquanto objecto de luxo para o olhar, se expande em galhardia e orgulho. Não servem para nada, senão como bibelô que desvia o olhar e o pensamento das amarguras dos dias presentes – e nisso condescendem o desvario.  

         - “Toutes les passions qui se laissent goûter et digérer ne sont que medíocres.” Montaigne, Essais

         - Por todo o lado, num país de entendidos em  futebol, do que se fala é da prisão do presidente do Benfica. Não oiço ninguém agradecer de joelhos a Rui Pinto que levou à descoberta de muitos crimes com o Football Leaks

         - Aquilo que o Governo jurou a pés juntos que era para respeitar (o célebre quadro das cores que ia do laranja ao vermelho escuro), há muito que está ultrapassado. Só hoje houve 240 casos de covid por 100 mil habitantes. Refugia-se o executivo para não travar o caminho da querida economia, no facto de as coisas se terem alterado. E como? Serve-lhe apenas 36 por cento de vacinados com inoculação completa para achar que o perigo desapareceu. Dá para entender? Não dá.