quarta-feira, julho 28, 2021

Quarta, 28.

“É indispensável endurecer o coração, até o transformar numa pedra. Mas, oh!... a vida podia ser tão bela! Isso é que é pior. E só temos uma vida. Não posso acreditar na imortalidade. Oxalá pudesse. Chegar às portas do céu e ouvir um anjo severo e já velhote gritar: “Os tuberculosos seguem pela direita, sobem a montanha, atravessam o campo de flores e o bosque; os que sofreram de cálculos e de doenças congéneres seguem pela esquerda, até ao restaurant, para saborearem eternamente os perfumes do Bife Eterno.” Até dava pulos, se pudesse acreditar. Porém, não; só vejo homens sombrios, fardos sombrios, buracos ainda mais sombrios, e o pobre M. (o companheiro) a estragar um par de luvas pretas, muito caras, de óptima pele, que a mãe o forçou a comprar... É indispensável deixar este país.” Katherine Mansfield em carta a Lady Ottoline Morell, Novembro de 1918, e que esta me remeteu em dia de trevas.