sábado, julho 03, 2021

Sábado, 3.

Quem nos acode! António Costa está em reclusão e desejo-lhe, sinceramente, que não seja untado pela víbora. Já Marcelo! Estou tão farto de o ouvir, Santo Deus! Não haverá ninguém que lhe diga que o que é demais cansa, desmotiva, farta. Assim o infeliz ministro Eduardo Cabrita, bombo onde todos malham não se sabe com que intenções, e também Joe Berardo de quem muita gente se serviu quando foi para eliminar o BCP, inclusive a CGD que lhe emprestou milhões para adquirir acções do banco aceitando por garantia as mesmas acções, em negócios das arábias onde está uma boa parte dos governantes envolvida. Este país desgraçado é isto: uma amálgama de corruptos que se esconde atrás doutros corruptos, numa enfiada a perder de vista. 

          - Dia em cheio aplicado a cozinhar sopa, prato principal, a apanhar as primeiras amoras negras, a observar o trabalho do robot, a ir ao mercado dos pequenos agricultores, a fazer compota de ameixa preta, a tratar da lavagem da roupa na máquina, a pô-la a secar, dobrar para que a Piedade a passe a ferro, regas, e ... Tudo isto sob um céu neutro, minúsculas gotas de chuva, abertas de uma beleza dourada e o murmúrio aziago da informação que não pára de nos profetizar o pior. Já que falei dela, não deixem de ler o artigo de António Barreto no Público de ontem – é de palmatória! 

         - Não me lembro de ter alguma vez passado um hiato de leitura como o que atravesso desde há pelo menos dois meses. Não é que não leia, mas quando acontece é espaçado, saltitante, mordendo aqui e ali, num toca e foge arrepiante. Livros em fila de espera para serem lidos são para cima de meia centena, talvez. Portanto, o que se passa? Fastio pela disciplina? Derrubado pela falta de harmonia, serenidade, paz, silêncio que a leitura demanda? Demasiado aéreo, ocupado com coisas que me cansam como consultas médicas, viagens constantes, horas neste e naquele consultório ou hospital, eu que nunca fui cliente de uns e outros e me irrita sobremaneira ter de cuidar da saúde? Ou esta sarna que há dois anos nos enxuta os nervos, nos isola, nos reinventa outra forma de existência com a qual estamos em desacordo por não ser humana e não dizer nada de humano aos seres que habitam esta Terra que parece abandonada por Deus? As pessoas dizem-me – a Annie, por exemplo, ontem – que eu tenho espaço, casa agradável onde apetece estar, numa zona despoluída, silenciosa, por conseguinte com melhores condições que a maioria das pessoas. É um facto. Mas eu, sendo solitário, não dispenso os meus irmãos, os amigos, a vida tal qual a tenho vivido, no espaço de fraternidade e camaradagem que envolve todos e cada um, embalado pela liberdade que é o que há de mais precioso que o homem pode ter. Esta está em vias de desaparecer e só não foi extinta, porque – distinção lhe faço – António Costa é um democrata, um homem que interiorizou que sem ela o ser humano perde a sua natureza não só divina  - ele não é crente, mas a mulher deve-lhe de vez em quando bichanar ao ouvido -, como a herança cultural que o agiganta na igualdade e fraternidade, no respeito pelos Direitos humanos, no livre e franco convívio no espaço de diálogo e discussão de ideias próprio dos povos civilizados. Suponho que sofro então da peste chinesa, que não abrandará tão depressa e quando estiver a declinar, logo outro espécimen inundará os espaços de liberdade do mundo democrático.