segunda-feira, julho 19, 2021

Segunda, 19.

A grande catástrofe que matou até agora 180 pessoas e dizimou vastas regiões na Alemanha, e ainda no Luxemburgo, Suíça, Bélgica e parte dos países baixos, não despega dos serviços informativos, oferecendo-nos imagens pungentes de misericórdia. Penso se tal tragédia ocorresse entre nós o que seria! Se nestes países ricos, bem estruturados, com vigilância e forte olho do Estado o resultado é o que se vê; em Portugal é fácil antever: primeiro a piedade desavergonhada dos governantes, depois o abandono das promessas no lugar da calamidade, por fim a dor e o sofrimento dos infelizes entregues à sua sorte ou aos cuidados de familiares e vizinhos que ainda mantenham uma ponta de humanidade; com o tempo a pobreza, a humilhação, a solidão.  

         - “Quand on met de côté un million par an, on ne peut être qu´un affreux homme.” Paul Morand

         - “Se os seres humanos tivessem no silêncio a mesma capacidade que têm no falar, o mundo seria muito mais feliz.” Mau caro Spinoza citado por fr. Bento Domingues!  

         - Tempo muito quente. Felizmente que a compra do robot traduz-se em água sempre limpa e ainda por cima poucos gastos em produtos químicos, em acrescento de água, em electricidade e em esforço braçal. 

         - Justamente. Eu que tive carro antes de ter carta, foi necessário atravessar toda a vida para concluir esta evidência: sai muito mais barato atestar o veiculo com gasolina fora dos postos dos supermercados onde é mais económica, que nos outros onde é mais cara. Eu explico-me. O mês passado, portador do cartão ACP, fui encher o depósito beneficiando do desconto dado ao sócio. Para meu espanto, passados vinte dias, o ponteiro do depósito não havia meio de mexer. Fui queixar-me a uma oficina aqui perto julgando haver avaria no sistema. O empregado, provavelmente tomando-me por idiota, explica-me que isso deve-se às octanas suprimidas nos combustíveis baratos. Deve ter razão. Assim, pelas minhas contas, agora um depósito cheio dar-me-á para dois meses, enquanto com o gasóleo barato não chegava a um mês. Ai esta mania das economias! Aqui aplica-se com propriedade o ditado: o barato sai caro. 

         - Fui a Lisboa sob um tempo parado de Primavera e voltei com o Verão espojado e risonho. A Carmo Pólvora pediu-me que passasse na Brasileira para depois almoçarmos juntos e irmos ao seu atelier, à Lapa. Mas taralhoquice afecta-a quando calha e fiquei à conversa com a Teresa Magalhães que não conversa, murmura. Estava-se bem na esplanada seguindo o movimento de turistas a subir e a descer o Chiado sem máscara como nos tempos felizes do PIB português. Almocei ali perto e de seguida fui ver como andam os preços de uns óculos decentes nos dias de hoje; trazendo travado na memória ainda o custo destes que uso há quase quinze anos e adquiri-os em Roma a um velho artesão com loja perto da Piazza del Popolo. 

         - Uma observação corrente leva-me a concluir o seguinte: os jovens quando abandonam o lugar onde estiveram sentados – comboio, gare, restaurante – voltam sempre a confirmar se deixaram para trás algum pertence. Atitude de velho desmemoriado? 

         - Gostaria tanto de amanhã permanecer neste paraíso todo o santo dia!