domingo, julho 25, 2021

Domingo, 25.

Ao longo do tempo, quero dizer através da democracia prisioneira da preeminência da esquerda, que tolera a livre expressão porque não tem outra alternativa, fui desenvolvendo uma série de anticorpos que me levam a estar atento a tudo. Vem esta introdução a propósito da marcha LGBTQ ontem nas ruas de várias localidades da Hungria. Diziam os únicos amantes da liberdade que Viktor Orbán queria banir do seu país a homossexualidade; tendo ido observar de perto, o que encontrei foi a directiva governamental para que não se excedessem, educadores e professores, numa característica da sexualidade humana de forma a proteger os menores e não a proibição da homossexualidade. Eu entendo isto. Com efeito, tal como as coisas se apresentam, é bom que os nossos amigos e irmãos, pensem o que acontecia na ex-URSS e, recentemente, entre nós quando Ary dos Santos, mercê da sua forte personalidade e talento, investiu sobre o PCP obrigando-o a aceitá-lo. E de tantos outros, personalidades sérias e honradas, que tiveram de recalcar a sua sexualidade, sendo comunistas (eu conheci alguns). 

Evidentemente, discordo do teor do primeiro-ministro quando afirma que introduziu políticas sociais, de olhos postos nos valores cristãos tradicionais da nação húngara, contra, digamos, da investida liberal da União Europeia. Esquece-se Orbán e a esquerda de Bruxelas que, com ou sem normativas educacionais ou prepotentes, o ser humano é escolhido pela sua sexualidade e não o contrário. Muitos dizem que a homossexualidade é um mistério. Será, mas um mistério dentro do mistério galvanizador que é a vida. A verdade é esta: nenhum pai (a mãe é mais tolerante) gosta de ter um filho homo. O ser humano que se vê um dia diante da sua natureza e olha o espelho normativo que o cerca, sofre horrores, mas depressa, impelido, precisamente, pela natureza e empurrado pelo corpo que não cabe nos esquemas morais ou de esquerda e direita, vai conhecer o tumulto arrebatador de se entregar a outro seu igual como se a aventura humana ensinada na escola ou na igreja, fosse a ladainha salmodiada de todas as mentiras que obstroem o homem e a mulher gay à felicidade. 

E todavia, nesse primeiro encontro não entra a escola nem a imposição política-religiosa. Pelo contrário, nasce a resistência à discriminação, ao vocabulário pseudo-machista, à aliança de grupo como forma de subserviência e alegria do sexo solto das amarras sociais e do olhar concupiscente do macho que finge desgostar, mas o devora com a sua carga lascívia, violenta, sob a cruz de Cristo que nunca recusou nenhum pecador e nunca se exprimiu contra nenhum homem que desfrutasse doutro homem. O direito à felicidade devia ser o princípio da UE, ou seja a liberdade de cada um poder viver segundo os cânones da sua natureza, numa comunidade onde a diversidade fosse consentida e estimada, e não como uma dúzia de bois admoestados com o cacete do seu dono.  

A orientação sexual de cada um, é divisa antes de mais da liberdade que fundamenta a existência. Prefiro o ensino da condescendência, da solidariedade, da tolerância que a doutrina cívica em parágrafo na Constituição. Nenhum regime ditatorial de esquerda consente a emancipação do cidadão dispor do seu corpo como muito bem entender e gostar. Alguns sistemas de direita fecham os olhos, caso do salazarismo e caetanismo, e o nazismo que atacou com a morte muitos homossexuais, enquanto no seio do partido as orgias com jovens arianos eram um fartote.

Claro está, não gosto que os éteros exibam a felicidade nos corredores do metro como um direito de maioria; mas também não aprecio a luta tribal dos homos segundo os quais todos são como eles e se não são têm de vir a ser. A sexualidade deve ser explicada nas escolas, mas sobretudo na família. Nem num lado como no outro, a directiva devia ser confrontar o jovem com as diferentes formas de relacionamento sensual e sexual, e em nenhuma devia haver a preocupação de impor a lei de grupo. A este propósito, não consigo compreender o que é isso de “orgulho gay”.