Segunda, 5.
Empurrado por Fr. Domingues fui reler pela enésima vez as Cartas aos Gálatas na tradução de Frederico Lourenço. São seis Cartas ao todo atribuídas ao Apóstolo S. Paulo. A citada pelo articulista do Público é, digamos, a mais pessoal. Quando o li na totalidade (disse-o nestas páginas na altura) tive um choque enorme, porque sabia que muito da nossa tragédia sexual vem dele. S. Paulo falou do “prepúcio” inúmeras vezes, sobretudo quando – embora sendo judeu e circuncidado – se bateu contra a legitimidade que a lei judaica atribuía à circuncisão enquanto marca de Deus no povo por Ele escolhido. S. Paulo fazia a distinção entre a lei e a fé e dizia que que somos todos filhos de Deus não por sermos circuncidados, mas porque nos foi dada a graça da fé. No seu feitio duro diz: “Eu fora incumbido de anunciar a boa-nova da incircuncisão, tal como Pedro a da circuncisão. Pois quem atuou em Pedro para ser apóstolo da circuncisão atuou em mim no que toca aos gentios (2: 7,8).” O seu carácter obsessivo e tempestuoso está inteiro nestas passagens, dirigidas aos gálatas: “Meus filhos, em relação a vós estou de novo em trabalho de parto, até que Cristo se tenha formado em vós (4: 19.” “Em Cristo Jesus não imposta nem circuncisão nem prepúcio, mas <só> fé que atua através do amor 5: 4” “Tomara até que esses, que vos estão a alvoroçar, se venham a castrar (5: 12)” “A carne deseja a forma contrária ao espírito, e o espírito, de forma contrária à carne: essas realidades opõem-se mutuamente para que não façam aquilo que quiserdes (5: 16)” “Os que são do Cristo, crucificaram a carne juntamente com as paixões e os desejos (5: 34)”. “Nem os próprios circuncidados observam <a> lei mas querem circuncidar-vos, para se vangloriarem na vossa carne (6: 13)”. “Que doravante ninguém me dê aborrecimentos, pois eu carrego os estigmas de Jesus no meu corpo (6: 17).” Estas passagens das Cartas aos Gálatas, patenteiam o carácter e a personalidade de uma personagem vigorosa e decerto modo controvérsia e fascinante que, de resto, arrebatou a primeira metade do século I.
- Da semana que findou sobrou a postura medíocre, despótica e covarde do homem do leme da Câmara de Lisboa. Em vez de ter apresentado a sua demissão pelas múltiplas atitudes pidescas de denúncia dos que pela liberdade se bateram em manifestações no nosso país contra actos arbitrários dos seus governantes, exonerou o funcionário da autarquia que tinha a seu cargo o envio de dados que comprometeram a vida daqueles que nós acolhemos e devemos proteger para as respectivas embaixadas. É uma posição reles, de um presidente nulo, fraco, que Lisboa teve a infelicidade de ter a governá-la montado na propaganda mais baixa, ao abrigo de um partido que perdeu toda a credibilidade porque, dizendo-se de esquerda, aprova com naturalidade a delação que condenou ao Estado Novo. Temo pelo mais que vamos saber quando o partido deixar a governação. Como já disse, este PS tomou as mesmas atitudes daquele outro que se abotoou com milhões quando foi primeiro-ministro: montou um cerco de boys que o defendeu, calou e abafou os crimes mais hediondos.