segunda-feira, julho 05, 2021

Segunda, 5.

Empurrado por Fr. Domingues fui reler pela enésima vez as Cartas aos Gálatas na tradução de Frederico Lourenço. São seis Cartas ao todo atribuídas ao Apóstolo S. Paulo. A citada pelo articulista do Público é, digamos, a mais pessoal. Quando o li na totalidade (disse-o nestas páginas na altura) tive um choque enorme, porque sabia que muito da nossa tragédia sexual vem dele. S. Paulo falou do “prepúcio” inúmeras vezes, sobretudo quando – embora sendo judeu e circuncidado – se bateu contra a legitimidade que a lei judaica atribuía à circuncisão enquanto marca de Deus no povo por Ele escolhido. S. Paulo fazia a distinção entre a lei e a fé e dizia que que somos todos filhos de Deus não por sermos circuncidados, mas porque nos foi dada a graça da fé. No seu feitio duro diz: “Eu fora incumbido de anunciar a boa-nova da incircuncisão, tal como Pedro a da circuncisão. Pois quem atuou em Pedro para ser apóstolo da circuncisão atuou em mim no que toca aos gentios (2: 7,8).” O seu carácter obsessivo e tempestuoso está inteiro nestas passagens, dirigidas aos gálatas: “Meus filhos, em relação a vós estou de novo em trabalho de parto, até que Cristo se tenha formado em vós (4: 19.” “Em Cristo Jesus não imposta nem circuncisão nem prepúcio, mas <só> fé que atua através do amor 5: 4” “Tomara até que esses, que vos estão a alvoroçar, se venham a castrar (5: 12)” “A carne deseja a forma contrária ao espírito, e o espírito, de forma contrária à carne: essas realidades opõem-se mutuamente para que não façam aquilo que quiserdes (5: 16)” “Os que são do Cristo, crucificaram a carne juntamente com as paixões e os desejos (5: 34)”. “Nem os próprios circuncidados observam <a> lei mas querem circuncidar-vos, para se vangloriarem na vossa carne (6: 13)”. “Que doravante ninguém me dê aborrecimentos, pois eu carrego os estigmas de Jesus no meu corpo (6: 17).” Estas passagens das Cartas aos Gálatas, patenteiam o carácter e a personalidade de uma personagem vigorosa e decerto modo controvérsia e fascinante que, de resto, arrebatou a primeira metade do século I. 

         - Da semana que findou sobrou a postura medíocre, despótica e covarde do homem do leme da Câmara de Lisboa. Em vez de ter apresentado a sua demissão pelas múltiplas atitudes pidescas de denúncia dos que pela liberdade se bateram em manifestações no nosso país contra actos arbitrários dos seus governantes, exonerou o funcionário da autarquia que tinha a seu cargo o envio de dados que comprometeram a vida daqueles que nós acolhemos e devemos proteger para as respectivas embaixadas. É uma posição reles, de um presidente nulo, fraco, que Lisboa teve a infelicidade de ter a governá-la montado na propaganda mais baixa, ao abrigo de um partido que perdeu toda a credibilidade porque, dizendo-se de esquerda, aprova com naturalidade a delação que condenou ao Estado Novo. Temo pelo mais que vamos saber quando o partido deixar a governação. Como já disse, este PS tomou as mesmas atitudes daquele outro que se abotoou com milhões quando foi primeiro-ministro: montou um cerco de boys que o defendeu, calou e abafou os crimes mais hediondos.