quinta-feira, julho 08, 2021

Quinta, 8.

Levanta-se pelo mundo futeboleiro, quero dizer todo o país, um grande ah! Esta pobre gente e gente pobre, nunca se deu ao trabalho de pensar na diferença que vai entre um jogador e um treinador, um presidente de clube e um qualquer analfabeto que povoa o cimo das organizações desportivas e ela. O abismo de vida, onde o factor salarial faz toda a desigualdade, é tal e tão escandalosamente díspar que, bastava as pessoas pensarem um instante para logo arrefecerem os entusiasmos e entregarem-se a outros e diversos interesses e paixões. Que o universo do futebol é um grande ninho de corruptos, uma salada entre política e negócios, entre amigos e vadios, entre autarcas e mafiosos locais, é conhecido à superfície das sensibilidades socialmente atentas. Daí que me espante o espanto que por aí vai pela prisão do presidente do Benfica. O homem estava ensopado no lodo que a importância confere a qualquer vendedor de pneus subitamente pregado aos esféricos da vida. O MP acusa-o de: falsificação, burla qualificada, abuso de confiança, fraude fiscal. A ele e a mais uns quantos, o querido filho incluído. Por isso, o ilustre dirigente fala tanto na queridíssima família! Do lado de António Costa e do seu benjamim, um silêncio aterrador. Talvez seja porque não gostaram de serem postos na rua da comissão de honra de Vieira quando da sua recandidatura à presidência do dito cujo. Estou com Ana Sá Lopes: “... como possível, quase 50 anos após o 25 de Abril, o regime manter a opacidade e a sensação de impunidade do corporativismo”.  

         - Há agora uma moda que vai ao encontro dos tempos presentes, onde se apregoa a igualdade de géneros: os homens, continuando, pois então, muito machos, se darem ao trabalho de aparar as sobrancelhas como fazem há muitos anos as mulheres. Não é nenhuma crítica – é uma constatação. Todavia, por este caminhar, os que gostam de homens vão andar hesitantes ou então satisfeitos por ver o seu mundo alargar-se substancialmente... Tudo começou com a depilação e não se sabe como vai acabar. Mas que é cómico, lá isso é. E confuso. E tentador. E diverso. E tristonho. E cinzento. Faz lembrar o período Nazi, quando os homossexuais foram violentamente perseguidos, mas as figuras principais do nazismo gozavam à grande e à tripa-forra com os rapazes arianos que Hitler adorava.    

         - Enfim, decidi meter mãos à obra e empreender a leitura dos Essais de Montaigne (na íntegra) alternados com o Journal de guerre (1939-1943) de Paul Morand. Ao todo 2375 páginas, 1347 e 1028, respectivamente. Tenho para alguns meses. Ou antes até à chegada do segundo volume do Journal Intégral de Green. (Já está anunciado o terceiro volume para este ano. Que loucura!)