sábado, maio 01, 2021

Domingo, 2 de Maio.

Chamam-lhe o dia do trabalhador. Entre nós os comunistas assenhorearam-se dele e, obsessivamente, despejam nas ruas a massa de descontentes que muitos deles vi apoderarem-se dos bens dos ricos quando a revolução estava na rua. Até colegas meus jornalistas, ficaram com bens que a avidez de possuir aquilo que condenavam aos capitalistas, parecia esquecida ou por direito lhes pertencia. A verdade é esta: quem verdadeiramente precisa, vive abaixo da linha de pobreza, luta como um desesperado por sobreviver, não tem força anímica, partido que o apoie, esforço suplementar para reivindicar aquilo que os manifestantes reclamam: estes que possuem trabalho, ordenado em conformidade, vida mais ou menos estável, fazem das reivindicações políticas e imprescindíveis uma festa; enquanto aqueles olham com desdém e impotência a má sorte que se instalou nos casebres onde esperam por sóis que nunca chegam. Karl Marx isto não previu... 

         - E portanto. Esta manhã, estando por aqui lojas e supers abertos, quero dizer umas centenas de trabalhadores de costas voltadas ao seu dia (perguntei a um ou outra se tinham sido obrigados todos disseram que não), pude adquirir o Público. Mas recordo-me, quando uns aninhos depois do 25 de Abril, os centros comerciais começaram a ignorar o Primeiro de Maio, ter abordado uma empregada no super indignado por a ver a trabalhar, ela me ter respondido: “Se ninguém fizesse compras neste dia, eles eram obrigados a fechar.” Resposta certíssima que mereceu da minha parte este parecer: “Nunca tinha pensado nisso e dou-lhe razão. A partir de agora não entrarei em nenhuma loja neste dia.” Assim aconteceu durante anos. Até que uma vez, tendo sido convidado para almoçar por um colega PCP que decerto se esquecera da data, assim que entrei no restaurante disse ao empregado: “Hoje ninguém devia comer fora. Porquê? Porque é o seu dia de descanso. Nada disso. Eu se não trabalho, não como.” Tanto o meu amigo como eu empancámos. Marx na sua tumba deu duas voltas... 

         - Aconselho vivamente aos meus leitores o artigo de António Barreto hoje no Público. É de antologia.