sexta-feira, maio 14, 2021

Sexta, 14.

Israel invadiu a Faixa de Gaza depois de ter bombardeado o território palestiniano e feito dezenas de mortos. A guerra está declarada e o que surpreende é a resistência de um povo que sempre foi espezinhado pelos que lhe colonizaram não só a terra como as suas vidas. Isto sob a égide de um primeiro-ministro corrupto, que pensa conseguir segurar o posto investindo em força sobre um povo desarmado. 

         - Ontem passei o dia às voltas em Lisboa a tentar resolver pequenos problemas práticos da vida corrente. Sem tempo, apesar disso, aceitei tomar café com o Carlos Soares na Fnac. Longa conversa sobre a obra inovadora de Leonardo da Vinci. Depois, subi à minha antiga morada e entrei no anexo da Faculdade de Ciências para ser inoculado com a segunda dose da Pfizer. De novo tudo bem organizado, onde não faltou o lanchinho do bebé Nestlé que não desiste de namorar os velhinhos que são a maioria da população, embora ontem houvesse já mistura alguma malta nova. O rapaz que me administrou a coisa, tinha um ar tão cansado, mas respondeu à minha pergunta: “Quer então que eu faça um ligeiro strip-tease? Sim, sim – disse, rindo-se. Então vou começar pelo braço. O resto logo se vê.” Gostei de o ver rir-se com vontade. Indaguei quantas vacinas tinha já administrado. “Mais de cem. Então deve estar necessitado duma cerveja fresquinha. Oh, quem me dera!” Cumpri trinta minutos de recobro lendo Sand e depois fui à Alsaciana e comprei duas cervejas frescas e fui levar-lhas. Se vocês vissem a cara do enfermeiro! Encheu-me o dia de ventura e ainda trasbordou para a noite. Vi o homem mais feliz deste mundo. Ele nem precisou de me agradecer, porque não lhe dei ocasião para isso debandando imediatamente.  

         - Vou citar apenas para enquadrar. O que aconteceu com os adeptos do Sporting  aconteceria com os do Benfica ou Porto. Aquilo é tudo igual e saído do mesmo forno. O clube ganhou vinte anos depois de andar a apanhar bonés, mas ganha num tempo de pandemia, um tempo muito perigoso para todos nós. As manifestações primárias que se seguiram são típicas da quase maioria dos patetas do futebol. Este é o país que temos, aqui está este povo. Ponto final. Acontece porém, que este país tem um Governo, polícia, gabinetes cheios de funcionários públicos, de cabeças pensantes, e vai daí o que sucedeu foi haver milhares de adeptos nas ruas até às cinco da madrugada, todos juntos, sem máscara nem distanciamento, gritando, abraçando-se, bebendo, cantando ante agentes da autoridade a carregar sobre eles (houve alguns que deram entrada no hospital), enquanto os jogadores no interior do autocarro festejavam também. No dia seguinte – televisões, rádios, jornais, povo anónimo, as oposições fraldiqueiras e oportunistas – gritaram indignação, falta de ordem ou esta malbaratada por este e aquele gabinete, ministro ou autarquia... até que um jornalista insuspeito, aproveitando a presença de sua excelência o primeiro-ministro perguntou-lhe que tinha ele a dizer da anarquia perigosíssima para a maioria dos lisboetas. Sabem o que sua excelência respondeu? Exactamente o que costuma retorquir: “Está a correr um inquérito para se apurar responsabilidades e mais não digo.” O grande homem, fino e esperto, conhecendo o sistema, sacode a água do capote, espera pacientemente que a tempestade passe, ficando como sempre incólume. Então não é tão divertido sermos governados por uma cabeça assim! Tiro-lhe o chapéu, excelência. E mais: conte com os 10 milhões de votos que ando a monopolizar para si. Sim, sim para sua excelência. São seus.