quarta-feira, maio 12, 2021

Quarta, 12.

Eu devo ter dado a ler o livro Os Guardas-chuvas Cintilantes de Teolinda Gersão ao meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho, porque dentro das suas páginas deparei com um bilhete dactilografado (ele tinha uma letra que não se podia ler) que diz assim: 

Querido HELDER, 

Refª TG – Pequenas histórias em pequenos livros. Tudo muito pequenino. Não há pachorra. Parto para outra e aproveito melhor o meu tempo! Todavia, o meu obrigado. A.R. Maio 99.” 

De facto, o livro é mauzinho. Mas não digas isso. Depois queixas-te que ninguém te quer editar. Aprende a viver, homem de Deus! Sê manso, cordato, bem comportado, em uníssono com toda a gente; lembra-te que vives num país onde todo o mundo é genial, onde existe o maior número de candidatos ao Nobel, onde escrever é uma moda que dá estatuto e não há menino ou  menina que não diga “eu sou escritor”.

         - Justamente, estou grato a Teolinda Gersão que me incentivou a ler a biografia La Vie de Katharina Pringsheim, escrita por Inge et Walter Jens que eu comprei há anos nos bouquinistes do Sena, em Paris. 

         - Os enfermeiros desceram à rua para reivindicar aumentos e condições de trabalho. Têm razão quando há dinheiro para as loucuras ideológicas como a TAP, pacotes de milhões para banqueiros e assim. Depois de se terem servido deles, de os terem obrigado a trabalhar em situações limite, põem-nos borda-fora e sem subsídio de desemprego! Isto é tratar as pessoas como tratam os imigrantes, os reformados, meio mundo de portugueses que são empregados do Estado, não dizendo em nenhum lado que temos um sistema marxista-leninista. Um país onde tantos milhões vivem a expensas do Estado, não é um país livre nem os seus cidadãos independentes. 

         - A Rússia virou um lugar próximo de qualquer reduto americano. Um rapaz de dezoito anos entrou numa escola armado e matou sete colegas e uma professora, ferindo umas dezenas mais de pessoas. A mortandade deu-se no Tartaristão.  

         - Também Israel voltou ao desassossego costumeiro. Entre Jerusalém e Faixa de Gaza os confrontos não dão tréguas. Os palestinianos utilizam pedras e pouco mais, os israelitas balas de borracha e granadas de atordoamento. Tudo porque a semana passada seis famílias palestinas foram expulsas por colonos armados em período de Ramadão. Vale tudo: assaltos a Mesquita Al-Aqsa, Pátio das Mesquitas... O Crescente Vermelho Palestiniano registou pelo menos 320 feridos e houve alguns mortos de parte e outra.