Sábado,
1 de Agosto.
Dias
tórridos. Pelo Norte os incêndios assolam tudo e mais um bombeiro pereceu. Chefe
de Estado e primeiro-ministro lá vêm compungidos apresentar condolências e
visitar os feridos. Mas pouco ou nada mudou na floresta. Os queridos eucaliptos
que tanto contribuem para o PIB continuam a multiplicar-se, a desordem
florestal é a mesma, os espaços têm igual traçado, a fisionomia de montes e
vales é aquilo que sempre foi, a anarquia arquitectónica multiplica-se por lugarejos e encostas. Indo-se o Verão, o silêncio cobre as infamantes discussões entre
autarcas e governo, a pacatez dos lugares e aldeias, habitua-se por não ter
alternativa, a olhar a paisagem escura como breu e a encomendar novenas e
missas pelos que morreram carbonizados. E o Governo retoma a rotina que só
incomoda quando o obriga a acudir o inesperado. Programar, traçar planos, planear
e antever o futuro é tarefa demasiada para quem vive ronronando. O
funcionalismo público, sabe que a lei está por ele e permite-lhe passar
incólume às incompetências e laxismos – o despedimento é ilegal. Os sindicatos
estão do seu lado, existem para pressionar o aumento salarial. O país e o povo
não existem. Afinal de contas, cada macaco no seu galho.