Quinta,
6.
Ainda
a tragédia de Beirute. À medida que as horas passam, actualizam-se os números
do drama: 137 mortos, 300 mil desalojados,
5 mil feridos. A isto junta-se a raiva dos libaneses contra a corrupção que
grassa no Governo, a pandemia, os deslocados da guerra na Síria, Israel e em
todo o Magrebe. E lembrar-me eu que Sarkosy está óptimo, que a América
prospera, que Muamar Kadafi foi morto em nome de uma futura democracia que
convinha à Europa e à América. Na Líbia outrora porta do Oriente, tudo é
importado, tudo chega ao porto agora reduzido a cinzas, a penúria está
propagada por todo o país. Se o custo de vida já era assustador, hoje reduz a
pobreza extrema sete milhões de pessoas.
- Por cá, ao rebotalho futebolista, não
há indigência que lhe toque. O país está praticamente com a sua massa
trabalhadora a viver do fundo de desemprego ou no limite da decência, mas com
eles os milhões correm como crimes hediondos contra a pobreza de uma boa parte
dos seus concidadãos. São 8 milhões para um tal Jesus, são outros tantos para
contratar jogadores por esse território de fantasia que é futebol. Onde vão
eles arranjar tanto dinheiro? Quem controla todas estas loucuras que parecem
escapar ao bom senso e ao crivo do fisco?
- Outro caso de ladroagem na classe
política. Um ex-deputado, de nome Agostinho Branquinho, está acusado de
branqueamento de capitais, fazendo jus ao apelido. O homem como todos os
outros, diz-se inocente. Fala assim porque não lhe faltará uma dessas centrais
de advocacia que proliferam entre nós, e são autênticas máquinas de lavar
criminosos.
- O homem entrou no Fertagus galhardo,
como se transportasse um grande jardim disperso pelo pescoço, braços, pernas e
talvez noutros obscuros lugares do corpo. Não teria 30 anos, mas já barrigudo e
pesado da rabadilha (para utilizar a expressão feliz de Aquilino).
- A Piedade esteve aí. Está metade do
que era. Crises e cenas de violência entre o neto e a rapariga de quem tem um
filho, levaram-na anteontem à GNR para prestar declarações. A criança é a grande sofredora de um capricho
do rapaz, talvez para não ficar para trás e querendo ir na onda dos amigos que
de repente se viram pais e estão todos separados, acharam que ter um filho é
também uma questão de moda. Tive de a controlar, porque a pobre mulher com 82
anos, chora pelo bisneto e neto e pela vida calma e feliz que tinha antes da
chegada da desestabilizadora.
- Calor abrasador. Anunciam-nos para
hoje subida de temperatura. O país está em estado de alerta. De manhã reguei as
laranjeiras e limoeiros, hortênsias e agapantos e morangueiros.