Domingo,
23.
Schopenhauer:
“La vie de tous les hommes et ma propre vie ne sont que des songes d´un esprit
éternel, bons et mauvais songes, dont chaque mort est un réveil.” Douleurs du monde, pág. 156, Ed.
Rivages.
- Diálogo em tempo de pandemia. Quando
entrei no supermercado, está um negro latagão a verter para as mãos quantidade
incrível do líquido antibacteriano. Digo-lhe: “Isso não é para lavar as mãos, é
para as desinfectar. – Isto é seu? – Não. Mas é uma questão de civismo –
respondo. – Então cale-se. – Já me calei, porque lhe disse o que tinha para
dizer.” Certamente no seu íntimo ele deve ter balbuciado: “racista”.
- Alexandra Lucas Coelho está no
Líbano. Da boca de um habitante regista este desabafo: “Esta explosão é o
rebentar de décadas de roubo. Beirute parece a nossa classe política feia,
destruída.”
- O meu leitor e revisor, Filipe
Candeias, tem o salutar hábito de me corrigir quando esbarra nalgum pecadilho
gramatical-linguístico na pressa com que faço este diário. Ontem foi o tempo de
um verbo. Respondi depois de corrigir o erro: “Ai ai a pressa! Mesmo assim,
para quem tanto escreve, duas pequenas faltas (num mês), é obra!” Este amigo,
que se preocupa comigo ao ponto de aqui há tempos me ter mandado um link que
remetia para um sujeito que ensinava como pode o aspirante a escritor imprimir o
seu livro. Afirmava a criatura que os livros por ele impressos e vendidos “sem
os gananciosos dos editores”, já lhe haviam rendido muito dinheiro e que hoje
estes não são precisos para nada. Mais adiante propunha-se elucidar a ousadia,
dava exemplos de escritores com sucesso através da Internet, e no fim lá vinham
os custos a desembolsar para guru sabichão das dúzias. Acontece que tudo aquilo
eu conheço de ginjeira, tudo aquilo eu experienciei e por isso não caio no
logro. Embora tenha tido um certo êxito, não estou disposto a entregar-me ao
primeiro chico-esperto que apareça. Estou como o João Tordo que conta que
remeteu o seu primeiro livro a um editor, e quando quebrantava pela resposta,
ela surgiu um ano depois! Eu tenho uma linha que é esta: recuso-me a trabalhar
com editor que não possua revisor. E, claro, não estou disposto a pagar para
ser editado. É tão simples como isto.
- Tempo mais
fresco. Estou com problemas na bomba do furo artesiano e portanto sem água para
regar. Limpei a piscina. Li. Conversei com vizinhos que apareceram. Tudo isto
poderia ser natural, simpático e equilibrado se não se desse o caso de ter
encostado o romance há um mês.