domingo, agosto 23, 2020

Domingo, 23.
Schopenhauer: “La vie de tous les hommes et ma propre vie ne sont que des songes d´un esprit éternel, bons et mauvais songes, dont chaque mort est un réveil.” Douleurs du monde, pág. 156, Ed. Rivages.
  
         - Diálogo em tempo de pandemia. Quando entrei no supermercado, está um negro latagão a verter para as mãos quantidade incrível do líquido antibacteriano. Digo-lhe: “Isso não é para lavar as mãos, é para as desinfectar. – Isto é seu? – Não. Mas é uma questão de civismo – respondo. – Então cale-se. – Já me calei, porque lhe disse o que tinha para dizer.” Certamente no seu íntimo ele deve ter balbuciado: “racista”.

         - Alexandra Lucas Coelho está no Líbano. Da boca de um habitante regista este desabafo: “Esta explosão é o rebentar de décadas de roubo. Beirute parece a nossa classe política feia, destruída.”

         - O meu leitor e revisor, Filipe Candeias, tem o salutar hábito de me corrigir quando esbarra nalgum pecadilho gramatical-linguístico na pressa com que faço este diário. Ontem foi o tempo de um verbo. Respondi depois de corrigir o erro: “Ai ai a pressa! Mesmo assim, para quem tanto escreve, duas pequenas faltas (num mês), é obra!” Este amigo, que se preocupa comigo ao ponto de aqui há tempos me ter mandado um link que remetia para um sujeito que ensinava como pode o aspirante a escritor imprimir o seu livro. Afirmava a criatura que os livros por ele impressos e vendidos “sem os gananciosos dos editores”, já lhe haviam rendido muito dinheiro e que hoje estes não são precisos para nada. Mais adiante propunha-se elucidar a ousadia, dava exemplos de escritores com sucesso através da Internet, e no fim lá vinham os custos a desembolsar para guru sabichão das dúzias. Acontece que tudo aquilo eu conheço de ginjeira, tudo aquilo eu experienciei e por isso não caio no logro. Embora tenha tido um certo êxito, não estou disposto a entregar-me ao primeiro chico-esperto que apareça. Estou como o João Tordo que conta que remeteu o seu primeiro livro a um editor, e quando quebrantava pela resposta, ela surgiu um ano depois! Eu tenho uma linha que é esta: recuso-me a trabalhar com editor que não possua revisor. E, claro, não estou disposto a pagar para ser editado. É tão simples como isto.


         - Tempo mais fresco. Estou com problemas na bomba do furo artesiano e portanto sem água para regar. Limpei a piscina. Li. Conversei com vizinhos que apareceram. Tudo isto poderia ser natural, simpático e equilibrado se não se desse o caso de ter encostado o romance há um mês.