terça-feira, agosto 27, 2019

Terça, 27.
A estupidez é um dos pilares da comédia humana. E entre eles aquela da primeira-dama acrescenta um toque de ridículo. Entre nós o primeiro a romper com essa espécie de demonstração de supremacia classista, honra lhe seja feita, foi Marcelo Rebelo de Sousa. O homem está acima dessas promoções passageiras e não precisa de carregar às costas nenhum consorte. Como já antes Sá Carneiro. Mas se pensarmos em Trump, Macron, Bolsonaro, (que deve ter três primeiras-damas), Cavaco Silva ou qualquer chefe de estado de qualquer país africano, temos a primeira-dama, esposa de sua excelência, isto é, a primeira sem rivais que a ofusquem. Dito de outro modo, a primeira com milhões de outras em segundo plano, espécie de damas da corte republicana e democrática do senhor omnipotente que é o seu excelentíssimo esposo.

         - Da cimeira dos G7 saiu pelo menos a decisão de os sete ricaços contribuírem com 20 milhões de dólares para a Amazónia. Bolsonaro recusou de imediato dizendo: “Usem-nos para reflorestar a Europa.” Temos homem.   

         - Lisboa está insuportável. Ontem, na estação de metro Baixa-Chiado, tive que ajudar três estrangeiros a desenvencilharem-se da máquina dos bilhetes. Primeiro, um espanhol, depois um imenso negro inglês e quando já pensava que estava livre e havia passado a barreira para ir à minha vida, ouvi chamar por mim. Voltei a entrar e fui acudir um casal de franceses que já havia perdido umas quantas moedas. Que grande poliglota me saíste!


         - Contrariamente ao que dantes fazia com frequência, desta vez voltei a escolher o barco para desembarcar no Terreiro do Paço e seguir depois pela Rua Augusta a penates até ao Chiado. O espectáculo é sinistro: ruas imundas, a praga dos turistas por todo o lado, obesos exibindo peitaças peludas, ventres inchados, aqui estou aqui me tens, a má educação e a vulgaridade exibida como troféu promocional de quem possui uns tostões para viajar, quer dizer para se deslocar do seu bairro lá longe e estatelar-se ao sol aqui, verdadeiros imbecis, zumbis sem sensibilidade nem ponta de estética, acompanhados de maitresses hediondas, que falam alto, chineses, franceses, espanhóis, alguns amerloques em calções, à mistura com os Tuk Tuk, as trotinetas, que nos atropelam ao passar, numa desordem terceiro-mundista, uma desumanidade que não tem em conta o outro nem merece um simples olhar. Portugal, pobrezinho, precisa desta gente.