Terça,
27.
A
estupidez é um dos pilares da comédia humana. E entre eles aquela da primeira-dama
acrescenta um toque de ridículo. Entre nós o primeiro a romper com essa espécie
de demonstração de supremacia classista, honra lhe seja feita, foi Marcelo
Rebelo de Sousa. O homem está acima dessas promoções passageiras e não precisa
de carregar às costas nenhum consorte. Como já antes Sá Carneiro. Mas se pensarmos
em Trump, Macron, Bolsonaro, (que deve ter três primeiras-damas), Cavaco Silva ou
qualquer chefe de estado de qualquer país africano, temos a primeira-dama,
esposa de sua excelência, isto é, a primeira sem rivais que a ofusquem. Dito de
outro modo, a primeira com milhões de outras em segundo plano, espécie de damas
da corte republicana e democrática do senhor omnipotente que é o seu
excelentíssimo esposo.
- Da cimeira dos G7 saiu pelo menos a
decisão de os sete ricaços contribuírem com 20 milhões de dólares para a Amazónia.
Bolsonaro recusou de imediato dizendo: “Usem-nos para reflorestar a Europa.”
Temos homem.
- Lisboa está insuportável. Ontem, na
estação de metro Baixa-Chiado, tive que ajudar três estrangeiros a desenvencilharem-se
da máquina dos bilhetes. Primeiro, um espanhol, depois um imenso negro inglês e
quando já pensava que estava livre e havia passado a barreira para ir à minha
vida, ouvi chamar por mim. Voltei a entrar e fui acudir um casal de franceses
que já havia perdido umas quantas moedas. Que grande poliglota me saíste!
- Contrariamente ao que dantes fazia
com frequência, desta vez voltei a escolher o barco para desembarcar no
Terreiro do Paço e seguir depois pela Rua Augusta a penates até ao Chiado. O
espectáculo é sinistro: ruas imundas, a praga dos turistas por todo o lado,
obesos exibindo peitaças peludas, ventres inchados, aqui estou aqui me tens, a
má educação e a vulgaridade exibida como troféu promocional de quem possui uns
tostões para viajar, quer dizer para se deslocar do seu bairro lá longe e
estatelar-se ao sol aqui, verdadeiros imbecis, zumbis sem sensibilidade nem
ponta de estética, acompanhados de maitresses hediondas, que falam alto,
chineses, franceses, espanhóis, alguns amerloques
em calções, à mistura com os Tuk Tuk, as trotinetas, que nos atropelam ao
passar, numa desordem terceiro-mundista, uma desumanidade que não tem em conta
o outro nem merece um simples olhar. Portugal, pobrezinho, precisa desta gente.