sábado, agosto 10, 2019

Sábado, 10.
Ontem quase houve tiroteio na Brasileira. Pelo menos os nossos amigos, turistas, clientes, empregados e gente de passagem, parou a ver quando começava a cena de pugilato entre mim e o Corregedor. Tudo a propósito de eu apoiar a greve dos escravos motoristas e ele, fiel a António Costa, enaltecer a posição do primeiro-ministro. Bati-me forte e feio porque o homem é tão fanático que só uma posição frontal consegue fazer-lhe frente. Entre nós, apesar de eu ter simpatia por ele, há um abismo, como direi, prático de ver a política. Ou antes eu não tenho nenhuma bandeira partidária a defender, amo acima de tudo a liberdade, e sou capaz de aceitar uma boa ideia de direita com o mesmo à-vontade com que encaro uma favorável da esquerda. O oposto dele que é obstinadamente aquilo e não admite outra coisa. Para mim basta-me a seriedade e o equilíbrio e até sou capaz de admitir contradições, mas odeio fanatismos. A dada altura tive mesmo de oferecer este rosto maravilhoso, sem rugas, emoldurado da candura de um espírito livre às ameaças que ele me fez. A esquerda entre nós, respeita religiosamente as ilusões. Deixei o café constrangido, com o sentimento que qualquer coisa se quebrou para sempre.


         - A História verdadeira conta-se depois de esquecida e enterrada a política.