Sábado,
10.
Ontem
quase houve tiroteio na Brasileira. Pelo menos os nossos amigos, turistas,
clientes, empregados e gente de passagem, parou a ver quando começava a cena de
pugilato entre mim e o Corregedor. Tudo a propósito de eu apoiar a greve dos
escravos motoristas e ele, fiel a António Costa, enaltecer a posição do
primeiro-ministro. Bati-me forte e feio porque o homem é tão fanático que só
uma posição frontal consegue fazer-lhe frente. Entre nós, apesar de eu ter
simpatia por ele, há um abismo, como direi, prático de ver a política. Ou antes
eu não tenho nenhuma bandeira partidária a defender, amo acima de tudo a
liberdade, e sou capaz de aceitar uma boa ideia de direita com o mesmo
à-vontade com que encaro uma favorável da esquerda. O oposto dele que é obstinadamente
aquilo e não admite outra coisa. Para mim basta-me a seriedade e o equilíbrio e
até sou capaz de admitir contradições, mas odeio fanatismos. A dada altura tive
mesmo de oferecer este rosto maravilhoso, sem rugas, emoldurado da candura de um
espírito livre às ameaças que ele me fez. A esquerda entre nós, respeita religiosamente as ilusões. Deixei o café constrangido, com o sentimento
que qualquer coisa se quebrou para sempre.
- A História verdadeira conta-se
depois de esquecida e enterrada a política.