segunda-feira, agosto 19, 2019

Segunda, 19.

No rescaldo da greve dos condutores de matérias perigosas, o que me surpreende é a lata, o arrojo, a comédia dos actores subitamente travestidos de várias personagens, do Mágico àquela figura patética que fala em nome dos patrões! De súbito, apareceram todos, ainda em calções de banho, tingidos do sol e não de vergonha, frescos, agitando a bandeira nacional, sorridentes, dizendo de sua justiça na forma aldrabona habitual. Até o homem forte da CGTP surgiu da escuridão que o reteve durante o terrível sofrimento dos trabalhadores, para vender a imagem de um sindicato forte e unido, capaz de arranjar contratos vantajosos para os seus associados. É i-na-cri-di-tá-vel! Sem falar nos comentadores que da SIC à TVI, teceram laudas à capacidade do Mágico em impor a ordem, apesar de utilizar indevidamente as Forças Armadas e a Polícia, como se fossem o seu exército privativo. Tão informada anda a classe política, tão conhecedora do país real, que ninguém se importou com a escravatura de anos dos condutores. Homens que trabalham 14 horas por dia para ganhar a merda de 620 euros!! Ainda por cima não se filiaram na CGTP e formaram o seu sindicato independente, coisa que ninguém lhes perdoa, dos políticos aos chefes sindicais. O Sr. Arménio Carlos só se interessa com os trabalhadores públicos, o resto do país é escumalha que deve trabalhar de sol a sol. A ver vamos o que vai sair desta trágico-comédia. Sendo certo que aquilo que os patrões reclamam, isto é, que todos se sentem para negociar, foi exactamente o que andaram a fazer anos a fio os motoristas. Todavia, a imagem daquele condutor que não conseguiu reter as lágrimas e pediu desculpa aos portugueses pelo que foram forçados a fazer é mais forte, integra, verdadeira, sólida, convincente e humanamente difícil de ver, que tudo o que disse e fez a miserável classe de governantes.