Quarta,
14.
Para
aliviar um pouco a tensão que entrou como um vulcão nestas páginas e foram
talvez lidas pelos bravos homens que têm o país suspenso a avaliar pelas suas
justas decisões de hoje, volto-me para a natureza e para este tapete verde que
enche os olhos e penetra fundo no coração. A vinha a perder de vista irmana-se
com o céu suave de azul, compondo uma tela sem igual. Ontem fui a pé pelo campo
visitar a Lurdes que depois da morte do marido sente-se muito só. Fui e voltei
a penates, admirando os horizontes descobertos que a brisa do fim de tarde
enaltecia. Em vez de regressar a casa pelo caminho de terra batida, subi um
tudo de nada os costados que ladeiam a quinta e fui olhar o vinhedo de outros ângulos.
O verdejante das cepas, tingiram os meus olhos de verde e deixaram-me por
largos momentos apoiado a um sobreiro encandeado da maravilha de tudo isto onde
o silêncio canta louvores e os gomos de sol despejam cintilantes cortinas de
luz. As sombras gozam em pleno a liberdade de se pavonearem, esboçando no campo
toda a sorte de alucinações. São presenças humanas no mistério que as envolve, nos
braços que se expandem, nos rostos que se escondem sob as copas das árvores
encobrindo ou dando realce ou materializando sentimentos que se propagam ao
homem, numa funda protecção que convida ao repouso ao dolce far niente. Assim
que o calor amainou, fui colher dois cabazes de maçãs – fruto que, fechado o
ciclo das ameixas, pêssegos, laranjas e amêndoas se perfila e anuncia a chegada
dos figos, dióspiros, amoras e romãs. De seguida, é o costume: instala-se o
inverno, o rumor da lareira, o silêncio denso que pigmenta tudo de sonho e intimidade
e por fim Paris.
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O vinhedo a perder de vista |
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A casa parece levantada no meio do verde |
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Petit bois contíguo à quinta que abre para o vinhedo |
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(Para gozar em pleno da paisagem, toque com o rato em cada foto) |