quarta-feira, agosto 07, 2019


Quarta, 7.
Pequim diz que não vai tolerar mais manifestações em Hong Kong. Que vai fazer: matar um milhão de pessoas? Capaz disso é Jinping ping ping. O ditador está na maior.

         - A Lurdes que não me via há um ano: “Por que é que você não envelhece?”

         - Compromissos obrigaram-me a estar ontem em Lisboa antes das oito da manhã. Tomei por isso o Fertagus a uma hora nada habitual. A carruagem onde seguia com um bando de dorminhocos, parecia o caixão onde seguia o silêncio em corpo presente. Até Foros de Amora, aquela colónia de África, que fez entrar várias dezenas de africanos com a alegria que lhes é reconhecida, a cor das vestimentas, os adornos, e excitação que inunda o espaços onde eles chegam. A moda também entre as negras, é as vistas sobre mamas a espreitar ora com timidez, ora com arrojo dos vestidos que eu não percebo como não deixam cair aquilo que a decência obriga a esconder. Uma preta de olhos de lince, argolas monumentais nas orelhas, corpo sexual, atirou-se literalmente para o banco da frente onde eu seguia, meio perdido, o cérebro atulhado de coisas. Sem mais o quê, pôs-se ao telefone, falando para a plateia que tinha acordado, no jargão da sua língua absolutamente incompreensível para nós outros. Falou tanto e a uma velocidade tal, que só parou em Entrecampos. O espaços públicos perderam a sua identidade e passaram a ser o lugar de cada um na intimidade de todos.

         - Julguem-me sem indulgência, mas não me tomem por idiota.

         - O país parece que se prepara para a guerra: fazem-se provisões de combustíveis, alimentos, medicamentos, adiam-se férias, há um alarmismo de Norte a Sul, a vida corrente está a meio gás. Os inimigos da ordem e do bem-estar social, são os motoristas de matérias perigosas que ameaçaram fazer greve por tempo indeterminável. De Gaulle dizia que qualquer um pode perturbar a paz social e tinha razão. Neste caso não é qualquer um, é um lote de escravos que tomou os seus destinos em mãos. Os patrões prepotentes e que não se conformam com a democracia, pensam que podem mandar num sector consciente e livre em torno dos seus sindicatos. Todos esgrimem argumentos, Marcelo pôs-se à sua maneira contra os trabalhadores, estes não desarmam exigem o que ficou firmado quando suspenderam a primeira greve há cinco meses. As duas partes agitam argumentos, nenhuma apresenta documentos. Seja como for, para mim é claro: os condutores têm toda a razão, é imoral pagarem-lhes 700 euros/mês por 14 horas de trabalho; e é redutível quererem sentar de novo os motoristas para recomeçar novos ciclos infindáveis de reuniões, desde que eles suspendam o que anunciam para dia 12, e não levam a nenhuma conclusão. Só a força, a revolta, o inconformismo faz andar o mundo. Bravo, rapazes!  


         - Francamente, gostava de ter visto os ditos socialistas que já andam a magicar reformular o direito à greve e não têm a maioria, ter tido idêntico comportamento quando das greves dos enfermeiros e pessoal jurídico. Bem sei que estas não feriam directamente a economia, a vidinha olé olé do pessoal olé olé; enquanto esta vai certeira ao bolso das empresas dos muitos sectores da economia. Pois é: a vida das pessoas é menos importante que a vidinha das empresas.