Quarta,
7.
Pequim
diz que não vai tolerar mais manifestações em Hong Kong. Que vai fazer: matar
um milhão de pessoas? Capaz disso é Jinping ping ping. O ditador está na maior.
- A Lurdes que não me via há um ano:
“Por que é que você não envelhece?”
- Compromissos obrigaram-me a estar
ontem em Lisboa antes das oito da manhã. Tomei por isso o Fertagus a uma hora
nada habitual. A carruagem onde seguia com um bando de dorminhocos, parecia o
caixão onde seguia o silêncio em corpo presente. Até Foros de Amora, aquela
colónia de África, que fez entrar várias dezenas de africanos com a alegria que
lhes é reconhecida, a cor das vestimentas, os adornos, e excitação que inunda o
espaços onde eles chegam. A moda também entre as negras, é as vistas sobre
mamas a espreitar ora com timidez, ora com arrojo dos vestidos que eu não
percebo como não deixam cair aquilo que a decência obriga a esconder. Uma preta
de olhos de lince, argolas monumentais nas orelhas, corpo sexual, atirou-se
literalmente para o banco da frente onde eu seguia, meio perdido, o cérebro
atulhado de coisas. Sem mais o quê, pôs-se ao telefone, falando para a plateia
que tinha acordado, no jargão da sua língua absolutamente incompreensível para
nós outros. Falou tanto e a uma velocidade tal, que só parou em Entrecampos. O
espaços públicos perderam a sua identidade e passaram a ser o lugar de cada um
na intimidade de todos.
- Julguem-me sem indulgência, mas não
me tomem por idiota.
- O país parece que se prepara para a
guerra: fazem-se provisões de combustíveis, alimentos, medicamentos, adiam-se
férias, há um alarmismo de Norte a Sul, a vida corrente está a meio gás. Os
inimigos da ordem e do bem-estar social, são os motoristas de matérias
perigosas que ameaçaram fazer greve por tempo indeterminável. De Gaulle dizia
que qualquer um pode perturbar a paz social e tinha razão. Neste caso não é
qualquer um, é um lote de escravos que tomou os seus destinos em mãos. Os
patrões prepotentes e que não se conformam com a democracia, pensam que podem
mandar num sector consciente e livre em torno dos seus sindicatos. Todos
esgrimem argumentos, Marcelo pôs-se à sua maneira contra os trabalhadores,
estes não desarmam exigem o que ficou firmado quando suspenderam a primeira greve
há cinco meses. As duas partes agitam argumentos, nenhuma apresenta documentos.
Seja como for, para mim é claro: os condutores têm toda a razão, é imoral
pagarem-lhes 700 euros/mês por 14 horas de trabalho; e é redutível quererem
sentar de novo os motoristas para recomeçar novos ciclos infindáveis de reuniões,
desde que eles suspendam o que anunciam para dia 12, e não levam a nenhuma
conclusão. Só a força, a revolta, o inconformismo faz andar o mundo. Bravo,
rapazes!
- Francamente, gostava de ter visto os
ditos socialistas que já andam a magicar reformular o direito à greve e não têm
a maioria, ter tido idêntico comportamento quando das greves dos enfermeiros e
pessoal jurídico. Bem sei que estas não feriam directamente a economia, a
vidinha olé olé do pessoal olé olé; enquanto esta vai certeira ao bolso das
empresas dos muitos sectores da economia. Pois é: a vida das pessoas é menos
importante que a vidinha das empresas.