sexta-feira, março 15, 2019

Sexta, 15.
O país real não confere com o país dos políticos e do seu chefe, o Mágico. Eu não preciso de ser deputado ou economista, padre ou ministro, basta-me ouvir, ver e pensar para chegar às conclusões da Deco: 70 por cento dos portugueses têm dificuldades em pagar a casa, água, seguros, energia, etc., 30 por cento está mesmo num estado catastrófico. O inquérito que a instituição fez, revelou a diferença entre a propaganda e a realidade. Para mim não há novidade nenhuma.

         - Eu não me entendo de maneira nenhuma com máquinas. Mas a roçadora que comprei quando equipei a quinta de maquinaria, parece entender-se comigo. Por exemplo, a gasolina termina e bloqueia o aparelho justamente quando estou no limite das minhas forças, acomoda-se à genica que ponho quando puxo o cordão da ignição e até quando caio como aconteceu anteontem, ela vai para o lado oposto à minha queda protegendo-me do pior. Tem sido sempre assim desde que nos casámos e por isso o nosso matrimónio é uma festa...  

         - Gostava de terminar a primeira revisão de O Juiz Apostolatos quanto antes. Não só porque na próxima semana estarei em Madrid, mas porque começo a desequilibrar-me com a falta diária da escrita criativa. No meu cérebro, atropela-se já a complexidade de O Matricida embora a história não esteja ainda aclarada e a desarrumação dentro de mim seja mais que muita. A propósito, não resisto a esta (aparente) laracha de Ernst Junger: “L´une des caractéristiques qui distinguent l´homme de l´animal, c´est le desir d´écrire un roman – signe que les animaux sont plus proches du paradis.”

         - Rui Pinto vai mesmo ser extraditado para Portugal, assim decretou o tribunal de Budapeste. A justiça portuguesa está excitada por o julgar. Que crime cometeu o rapaz? Acedeu ao correio electrónico dos corruptos clubes desportivos e divulgou as cabalas de milhões que por lá circulam sem pagar impostos, comprando e vendendo e traficando influências, trocando acórdãos dos tribunais, numa completa impunidade que de outro modo nunca os Mourinhos e os Ronaldos deste desgraçado mundo não teriam sido descobertos e por causa dele fizeram entrar nos cofres dos estados atingidos somas fabulosas. Por isto, vai a Polícia buscá-lo à cadeira húngara para o encarcerar. Os inocentes estão presos, os corruptos gestores do futebol e outros aprendizes, continuam a exercer a corrupção, a fugir ao fisco, a enriquecer à conta da massa alienada que os segue, vesga, de campo em campo, de país em país, de cidade em cidade ou à manjedoura da TV.

         - Embora viva na pacatez e beleza dos dias contados, num sítio belíssimo rodeado de árvores e silêncio, portanto, um privilegiado que em nada contribuiu para o ser, inquieto como sempre foi pelo que acontece ao seu semelhante, pelas injustiças que andam por esse mundo à solta, transformando o indivíduo que antes os comunistas não admitiam existir enquanto tal e hoje as democracias utilizam-no com uma espécie de arrogância e ditadura branda, querendo-o amorfo e colectivo, contornando a autoridade déspota com as palavras brandas que o voto forçou. Mas o individuo está a metamorfosear-se em cidadão e cidadão que quer tomar o seu destino em mãos. É por isso, que a técnica de Chou Chou não convenceu os mais esclarecidos, os mais revoltados, os mais inconformistas. Por todo o lado, assiste-se (não falo de Portugal, evidentemente) ao toque a rebate das populações mais ostracizadas, mais humilhadas pelos governos a exigirem acções claras, a cobertura da pobreza que não cessa de crescer com políticas que tenham em vista as pessoas e não o número, o consumidor, o esbanjamento, a loucura que afronta o equilíbrio na terra. O que for que o Presidente irá fazer dos milhares e milhares de debates a nível da França, uma coisa perece certa: a popularidade não cresceu e a classe média e baixa não espera nada de substancial de um homem todo virado para as minorias abastadas.


         - Mas o mundo num todo está moribundo. Quando num país tolerante, multicultural, pacífico, feliz acontece a barbárie que hoje inundou de vergonha as nações civilizadas, na forma covarde de dois ataques a duas mesquitas na Nova Zelândia, os quais redundaram até ao momento 49 mortos e dezenas de feridos graves, somos todos nós no canto onde acomodamos a existência, que fomos atingidos. Ainda por cima, quando a besta que levou a cabo o atentado, invoca Donald Trump como herói ou instigador dos seus actos!... Claro que o Presidente dos Estados Unidos não instigou o covarde, mas com as suas acções, o seu modo de governar, a sua filosofia assente no triunfo do dinheiro, é suficientemente sedutor para refazer as naturezas hediondas que existem recalcadas por todo o lado.