Sexta,
15.
O
país real não confere com o país dos políticos e do seu chefe, o Mágico. Eu não
preciso de ser deputado ou economista, padre ou ministro, basta-me ouvir, ver e
pensar para chegar às conclusões da Deco: 70 por cento dos portugueses têm
dificuldades em pagar a casa, água, seguros, energia, etc., 30 por cento está
mesmo num estado catastrófico. O inquérito que a instituição fez, revelou a
diferença entre a propaganda e a realidade. Para mim não há novidade nenhuma.
- Eu não me entendo de maneira nenhuma
com máquinas. Mas a roçadora que comprei quando equipei a quinta de maquinaria,
parece entender-se comigo. Por exemplo, a gasolina termina e bloqueia o
aparelho justamente quando estou no limite das minhas forças, acomoda-se à
genica que ponho quando puxo o cordão da ignição e até quando caio como
aconteceu anteontem, ela vai para o lado oposto à minha queda protegendo-me do
pior. Tem sido sempre assim desde que nos casámos e por isso o nosso matrimónio
é uma festa...
- Gostava de terminar a primeira
revisão de O Juiz Apostolatos quanto
antes. Não só porque na próxima semana estarei em Madrid, mas porque começo a
desequilibrar-me com a falta diária da escrita criativa. No meu cérebro,
atropela-se já a complexidade de O Matricida
embora a história não esteja ainda aclarada e a desarrumação dentro de mim seja
mais que muita. A propósito, não resisto a esta (aparente) laracha de Ernst
Junger: “L´une des caractéristiques qui distinguent l´homme de l´animal, c´est
le desir d´écrire un roman – signe que les animaux sont plus proches du
paradis.”
- Rui Pinto vai mesmo ser extraditado
para Portugal, assim decretou o tribunal de Budapeste. A justiça portuguesa
está excitada por o julgar. Que crime cometeu o rapaz? Acedeu ao correio
electrónico dos corruptos clubes desportivos e divulgou as cabalas de milhões
que por lá circulam sem pagar impostos, comprando e vendendo e traficando
influências, trocando acórdãos dos tribunais, numa completa impunidade que de
outro modo nunca os Mourinhos e os Ronaldos deste desgraçado mundo não teriam
sido descobertos e por causa dele fizeram entrar nos cofres dos estados
atingidos somas fabulosas. Por isto, vai a Polícia buscá-lo à cadeira húngara
para o encarcerar. Os inocentes estão presos, os corruptos gestores do futebol
e outros aprendizes, continuam a exercer a corrupção, a fugir ao fisco, a
enriquecer à conta da massa alienada que os segue, vesga, de campo em campo, de
país em país, de cidade em cidade ou à manjedoura da TV.
- Embora viva na pacatez e beleza dos
dias contados, num sítio belíssimo rodeado de árvores e silêncio, portanto, um
privilegiado que em nada contribuiu para o ser, inquieto como sempre foi pelo
que acontece ao seu semelhante, pelas injustiças que andam por esse mundo à
solta, transformando o indivíduo que antes os comunistas não admitiam existir enquanto
tal e hoje as democracias utilizam-no com uma espécie de arrogância e ditadura
branda, querendo-o amorfo e colectivo, contornando a autoridade déspota com as
palavras brandas que o voto forçou. Mas o individuo está a metamorfosear-se em
cidadão e cidadão que quer tomar o seu destino em mãos. É por isso, que a
técnica de Chou Chou não convenceu os mais esclarecidos, os mais revoltados, os
mais inconformistas. Por todo o lado, assiste-se (não falo de Portugal,
evidentemente) ao toque a rebate das populações mais ostracizadas, mais
humilhadas pelos governos a exigirem acções claras, a cobertura da pobreza que
não cessa de crescer com políticas que tenham em vista as pessoas e não o
número, o consumidor, o esbanjamento, a loucura que afronta o equilíbrio na
terra. O que for que o Presidente irá fazer dos milhares e milhares de debates
a nível da França, uma coisa perece certa: a popularidade não cresceu e a
classe média e baixa não espera nada de substancial de um homem todo virado
para as minorias abastadas.
- Mas o mundo num todo está moribundo.
Quando num país tolerante, multicultural, pacífico, feliz acontece a barbárie
que hoje inundou de vergonha as nações civilizadas, na forma covarde de dois
ataques a duas mesquitas na Nova Zelândia, os quais redundaram até ao momento
49 mortos e dezenas de feridos graves, somos todos nós no canto onde acomodamos
a existência, que fomos atingidos. Ainda por cima, quando a besta que levou a
cabo o atentado, invoca Donald Trump como herói ou instigador dos seus actos!...
Claro que o Presidente dos Estados Unidos não instigou o covarde, mas com as
suas acções, o seu modo de governar, a sua filosofia assente no triunfo do
dinheiro, é suficientemente sedutor para refazer as naturezas hediondas que
existem recalcadas por todo o lado.