quinta-feira, março 21, 2019

Quinta, 21.
Ontem nos transportes públicos, não se falava  de outra coisa: a revolução, como lhe chama o Mágico, dos passes a 40 euros/mês abrangendo o Fertagus, metro, autocarros, etc. No troço entre o Pragal e Sete Rios, umas madames que entraram e não tiveram lugar para se sentar, traziam já a conversa engatada. Elas acertavam na mouche ao afirmarem: “Se isto está assim cheio e não temos lugares, o que fará no próximo mês (a partir do qual entra a “revolução” em marcha).  “A mim quer-me parecer que vai ser a bagunça, e vamos andar como sardinha enlatada” disse outra. Começou então aquilo que me parece evidente: que o Governo não preparou as infra-estruturas para uma tamanha e boa revolução. Aí, uma terceira, dá o tiro certeiro no Mágico: “Quem se vai safar, é quem vier de carro. A ponte deixa de ser uma miragem.”  

         - São assustadoras as imagens da Beira. Aquelas criaturas não mereciam tanto sofrimento. Umas filmagens da TV5 Monde, dá-nos a ver uma enfiada de casas térreas com os telhados pejados de pessoas e mais adiante várias árvores cheias de negrinhos agarrados num equilíbrio instável aos seus ramos. O Presidente falou em 1000 mortos e talvez, infelizmente, venha a ter razão. A dimensão da tragédia é mais profunda e violenta que se pensava. Portugal enviou várias equipas de socorridas em muitas áreas. Acho bem: é melhor gastar o dinheiro nestas situações que a encher os banqueiros. 

         - Les Soleils révolus velho diário de  Gabriel Matzneff que encontrei num bouquiniste das margens do Sena, não desbota dos anteriores volumes (os posteriores são mais interessantes, a velhice pinta a vida com cores mais reais) e é por si só uma chatice de todo o tamanho. São quinhentas páginas a explicar a sua vida de valdevinos, amante das meninas de treze, catorze e quinze anos (ele vai nesta altura nos quarentas), com quem passa manhãs, tardes e noites enrolado na cama. Eu não sou moralista, mas acho que o emprego de um homem com talento, para não falar das árvores que desaparecem, chafurdando sempre no mesmo mete e tira, pela frente e por trás, ao jeito de Casanova seu mistagogo, cansa. Como exemplificação, este trecho, pág. 109, Gallimard, que me recuso a traduzir, multiplicada à exaustão até à 545: “Ce matin, au réveil, lorsque Isabelle m´a fait jouir dans sa bouche, j´ai été heureux, très heureux; pas plus heureux que ce soir, quand Marie-Élisabeth me suçait passionnément et maladroitment, me faisant parfois mal avec ses dents, mais n´importe, c´était bouleversant.
         Auparavant, je lui avait longuement sucé le clítoris, leche le con, voluptueusement fait feuille de rose (caresse inoubliable pour elle, je l´espère); je l´ai possédée en bouche, en con. Puis je l´ai pédiquée: cela lui a fait mal, très mal même, puisque des larmes ont jailli de ses yeus, mais elle n´a pas protesté, elle a supporté l´assaut avec vaillance.” Esta Élisabeth tem 15 anos. Com a sua idade, sai bastante amassada, a pobre...


           - Eu gostava de ser optimista como Fr. Bento Domingues. Diz o ilustre sacerdote no Público de domingo: “No momento, em que as narrativas de corrupção tendem a criar a ideia do inevitável, importa encontrar os meios, as práticas e a cultura de que o normal, o mais corrente, é a honestidade pessoal e a observância das boas regras nas instituições públicas e privadas.” Só a bondade de um homem íntegro e honesto, pode ser capaz de ambicionar nos nossos dias uma práxis do passado.

              - Com a preciosa ajuda da Piedade, abri o lounge. É a minha forma de saudar a Primavera que hoje inundou os espaços e, espero, os corações.