Quarta, 27.
Visita
a Atocha a central de caminhos de ferros martirizada pelos atentados, em 2004,
levados a cabo pelos jhiadistas do Daesh. Hoje o interior é um jardim botânico
onde apetece passar uns momentos, respirando a atmosfera dos grandes centros
internacionais, tomando parte naquele movimento de gente que chega e parte, mas
onde se encontram recantos para a leitura, a fruição das plantas e pássaros,
esplanadas, cafés e restaurantes. Aí aligeirámos os cansaços das horas feitas
no museu hoje e as acumuladas de ontem.
- O nosso hotel confina com o célebre bairro
da Chueca. É o paraíso gay, um lugar de tolerância e festa, onde todos os dias
se cruzam connosco as relíquias do passado e as novidades dos tempos presentes.
O dono do restaurante onde vamos jantar e tomar o pequeno-almoço, um gordo de
barriga medonha e T-shirt justa, com uma imagem divertida e a frase Chueca. A
atmosfera é divertida, solta, misturada de sexos e tendências sexuais. À noite,
se nos afoitamos para o interior, as ruas estão pejadas de malta nova e velha
num convívio geracional onde tudo parece funcionar às mil maravilhas. Os preços
e bares e restaurantes, aumentam. As pessoas passam aos pares, por vezes
pergunto-me como podem certos rapazes, como direi, apessoados acamaradar com
outros tão feios valha-nos Deus... Mas, enfim, tudo parece funcionar sob a conduta
livre do consentimento colectivo e cultural.
- O Museu Nacional Thyssen-Bornemisza
que eu não conhecia, é uma agradabilíssima surpresa. Nos seus três pisos
encontramos vastas colecções de arte: de ícones primitivos ao impressionismo do
séc. XIX (no segundo andar), passando pela pintura holandesa do séc. XVII aos
vanguardistas dos tempos presentes (no primeiro piso), terminando numa plêiade
de pintores da primeira metade do séc. XX (no rés-do-chão). É, contudo, no
primeiro andar que nos perdemos, apesar de aí chegarmos já exaustos e
baralhados de ideias (somos convidados a começar a visita pelo último piso). Porque
todo o museu é um labirinto de corredores, salas e recantos plenos de telas,
esculturas, nichos, espaços recônditos.
À primeira impressão somos abalados por
esta pergunta: como foi possível ao barão Thyssen ter adquirido uma tal
quantidade e qualidade de obras. Ainda por cima, suponho, numa só geração. Vou
ter que me documentar sobre o assunto quando me passar a estupefacção e o cansaço
que acumulei ao percorrer o museu. Por agora vivo ainda sob a emoção do muito
que vi, sobretudo no primeiro andar onde a arte e os artistas reinam na
completa liberdade que a memória reteve e o tempo expandiu. Ele por si só vale
o esforço de todo o edifício. Mas noutra altura falarei sobre disso.