quarta-feira, março 27, 2019

Quarta, 27.
Visita a Atocha a central de caminhos de ferros martirizada pelos atentados, em 2004, levados a cabo pelos jhiadistas do Daesh. Hoje o interior é um jardim botânico onde apetece passar uns momentos, respirando a atmosfera dos grandes centros internacionais, tomando parte naquele movimento de gente que chega e parte, mas onde se encontram recantos para a leitura, a fruição das plantas e pássaros, esplanadas, cafés e restaurantes. Aí aligeirámos os cansaços das horas feitas no museu hoje e as acumuladas de ontem.

          - O nosso hotel confina com o célebre bairro da Chueca. É o paraíso gay, um lugar de tolerância e festa, onde todos os dias se cruzam connosco as relíquias do passado e as novidades dos tempos presentes. O dono do restaurante onde vamos jantar e tomar o pequeno-almoço, um gordo de barriga medonha e T-shirt justa, com uma imagem divertida e a frase Chueca. A atmosfera é divertida, solta, misturada de sexos e tendências sexuais. À noite, se nos afoitamos para o interior, as ruas estão pejadas de malta nova e velha num convívio geracional onde tudo parece funcionar às mil maravilhas. Os preços e bares e restaurantes, aumentam. As pessoas passam aos pares, por vezes pergunto-me como podem certos rapazes, como direi, apessoados acamaradar com outros tão feios valha-nos Deus... Mas, enfim, tudo parece funcionar sob a conduta livre do consentimento colectivo e cultural.

         - O Museu Nacional Thyssen-Bornemisza que eu não conhecia, é uma agradabilíssima surpresa. Nos seus três pisos encontramos vastas colecções de arte: de ícones primitivos ao impressionismo do séc. XIX (no segundo andar), passando pela pintura holandesa do séc. XVII aos vanguardistas dos tempos presentes (no primeiro piso), terminando numa plêiade de pintores da primeira metade do séc. XX (no rés-do-chão). É, contudo, no primeiro andar que nos perdemos, apesar de aí chegarmos já exaustos e baralhados de ideias (somos convidados a começar a visita pelo último piso). Porque todo o museu é um labirinto de corredores, salas e recantos plenos de telas, esculturas, nichos, espaços recônditos.

         À primeira impressão somos abalados por esta pergunta: como foi possível ao barão Thyssen ter adquirido uma tal quantidade e qualidade de obras. Ainda por cima, suponho, numa só geração. Vou ter que me documentar sobre o assunto quando me passar a estupefacção e o cansaço que acumulei ao percorrer o museu. Por agora vivo ainda sob a emoção do muito que vi, sobretudo no primeiro andar onde a arte e os artistas reinam na completa liberdade que a memória reteve e o tempo expandiu. Ele por si só vale o esforço de todo o edifício. Mas noutra altura falarei sobre disso.