Quinta, 28.
Grande
deambulação pela cidade. Chegámos num táxi a Praça Mayor depois da manhã no
Museu Rainha Sofia. Almoçámos ao sol, os olhos postos no enorme edifício
quadrangular, todo decorado com personagens, que três incêndios devastaram e
outros tantos arquitectos renovaram. Ela é erguida em memória de Felipe III e é
hoje centro indispensável da movida madrilena, com uma actividade turística
solidificada nos sucessivos restaurantes que a circundam. Julgo que é a segunda
maior praça da Europa e goza por isso da reputação que séculos trouxeram até
nós. Ao lado funciona o Mercado S. Miguel. Um pitoresco lugar onde os espanhóis
almoçam tapas a preços exorbitantes, centro de convívio e encontros, lugar
barulhento como só a Espanha possui, mas onde apesar disso apetece retardar o
passo absorvidos pelo muito que nos oferece do ponto de vista alimentar,
vinícola, sociológico, cultural. Por lá nos quedámos a fazer tempo para
embarcarmos rumo a Lisboa.
- O Museu Rainha Sofia está em obras
de ampliação. Já estava quando o visitei da última vez. À parte a sala que
expõe Guernica e é tematicamente rica com os estudos na sala anexa, tudo o
resto parece-me uma amálgama onde nos perdemos, nos estafamos, nos
desorientamos. Não sei se a regra dos grandes museus é correcta. Também se pensava
assim dos hospitais e hoje tende-se a repensar o assunto. Não estão em causa as
obras nem a sua importância, mas torná-los num sítio temático, aprazível, onde
o visitante possa escolher o que lhe interessa naquele momento. Como estão propendem
a ser um local de loucos perdidos à procura não se sabe de quê, desnorteados,
fazendo muitos quilómetros sem sair do mesmo sítio, espécie de peregrinação
cruzando corredores e divisões, para no final misturar escolas, períodos,
artistas, países, etc. Todavia, foi um prazer para mim rever a obra de Picasso,
ter encontrado uma maravilhosa tela de Cocteau, Jean Gris tão esquecido e
abafado por Pablo Picasso, Gargalla, Miró, Dalí, Zurbaran, enfim, os
impressionistas que ali reinam em glória e arte.