Segunda, 18.
Ontem,
na missa das nove horas, já esta tinha começado, entra um casal com um rapaz
que eu tive dificuldade em reconhecer como tal, ficando ao meu lado. Durante o Kyrie, o Glória, o Credo, o Sanctus ele não cessou um momento de passar as mãos no
cabelo que lhe chegava até meio das costas. Só na ocasião do desassossego dos
beijos e cumprimentos, vi que ele tinha um bigodinho que lhe dava um ar de
conde Artagnan e uma mão feminina agradável ao toque. Estranha figura que me
desviou da concentração que a cerimónia exigia.
- O mundo não é hoje um lugar onde o
homem possa viver feliz. Se não são os casos de polícia dos governantes que nos
roubam milhões, são as tempestades, os atentados, as mortes, os incêndios e as
catástrofes naturais. Está tudo a rebentar pelas costuras e ninguém acredita no
futuro assente no equilíbrio e na paz dos dias a provir. Este diário corre o
risco de se tornar no registo das desgraças e das monstruosidades humanas. Veja-se
o caso agora do ataque a um autocarro na Holanda onde perderam a vida três pessoas
e muitas outras ficaram feridas. Não se sabe a origem de mais este acto
criminoso, mas a Polícia inclina-se para investida terrorista. Ou ainda as
inundações em Moçambique que fizeram pelo menos 1000 mortos. As imagens que nos
chegam, mostram populações desesperadas a refugiarem-se nos telhados das casas
e nas copas das árvores. O país que quase não se ouvia falar, está desta feita
nos jornais e televisões pela mais trágica circunstância.
- Esta manhã terminei a primeira
análise ao romance. Detecto ainda um longo trabalho, com acertos cronológicos,
sítios, contradições no relacionamento das personagens entre si. Saí das três
horas de trabalho, com muita incerteza, dúvidas e alguma frustração – tudo suficiente
amargo para me estragar o resto do dia.