segunda-feira, março 18, 2019

Segunda, 18.
Ontem, na missa das nove horas, já esta tinha começado, entra um casal com um rapaz que eu tive dificuldade em reconhecer como tal, ficando ao meu lado. Durante o Kyrie, o Glória, o Credo, o Sanctus ele não cessou um momento de passar as mãos no cabelo que lhe chegava até meio das costas. Só na ocasião do desassossego dos beijos e cumprimentos, vi que ele tinha um bigodinho que lhe dava um ar de conde Artagnan e uma mão feminina agradável ao toque. Estranha figura que me desviou da concentração que a cerimónia exigia.

         - O mundo não é hoje um lugar onde o homem possa viver feliz. Se não são os casos de polícia dos governantes que nos roubam milhões, são as tempestades, os atentados, as mortes, os incêndios e as catástrofes naturais. Está tudo a rebentar pelas costuras e ninguém acredita no futuro assente no equilíbrio e na paz dos dias a provir. Este diário corre o risco de se tornar no registo das desgraças e das monstruosidades humanas. Veja-se o caso agora do ataque a um autocarro na Holanda onde perderam a vida três pessoas e muitas outras ficaram feridas. Não se sabe a origem de mais este acto criminoso, mas a Polícia inclina-se para investida terrorista. Ou ainda as inundações em Moçambique que fizeram pelo menos 1000 mortos. As imagens que nos chegam, mostram populações desesperadas a refugiarem-se nos telhados das casas e nas copas das árvores. O país que quase não se ouvia falar, está desta feita nos jornais e televisões pela mais trágica circunstância.


         - Esta manhã terminei a primeira análise ao romance. Detecto ainda um longo trabalho, com acertos cronológicos, sítios, contradições no relacionamento das personagens entre si. Saí das três horas de trabalho, com muita incerteza, dúvidas e alguma frustração – tudo suficiente amargo para me estragar o resto do dia.