domingo, março 03, 2019

Domingo, 3.
O juiz Neto de Moura está no centro de um terramoto por várias vezes ter proferido sentenças que vão contra as ideias hoje generalizadas de que num casal só o homem tem comportamentos reprováveis. Esta forma de pensar levar-nos-ia muito longe, mas não é este o meu intento agora. Do que me apraz falar, é da campanha pessoal de certos políticos, jornalistas e humoristas (por assim dizer, porque a mim nunca me arrancaram um simples sorriso), que pensam que têm o direito de poder dizer o que lhes apetece, da simples idiotice à formulação jurídica. O juiz vai pô-los a todos em tribunal por ofensas pessoais e anedotário jocoso. Segue-se estes “críticos” em romaria, com a viúva do BE à cabeça, a gritar que Neto de Moura está contra a liberdade de expressão, de pensamento e assim. Estas almas, não percebem a diferença entre opinião e até censura  e ofensa pessoal e profissional. Em democracia não há lugar a senhores que manipulam a opinião pública em nome de uma aristocracia pseudo artística ou ideológica. Mais a mais quando são os mesmos que nos seus espectáculos e dichotes ridicularizam e maltratam a mulher atirando-a pelas ruas da amargura.

         - Ontem fui à inauguração da exposição do Grupo 5 + 1, com curadoria (temos que nos actualizar mesmo no ridículo) do José Alexandre para a Galeria Municipal do 11, em Setúbal. Este grupo foi formado pelos pintores João Hogan, Júlio Pereira, Guilherme Parente, Teresa Magalhães, Sérgio Pombo + o escultor Virgílio Domingues. Destes já não pertencem a este mundo Hogan de tão boa memória e Júlio Pereira, todos os outros estão vivos e quase todos a trabalhar ainda. Lá nos encontrámos não tendo eu podido ir ao almoço que antecedeu a estreia. Se muitos trabalhos remontam a alguns anos passados, outros há, como os do Guilherme que eu vi agigantarem-se no seu atelier do Chiado. Do conjunto, para além das telas de Hogan, ficou-me uma excelente impressão dos trabalhos da Teresa, do Sérgio e das esculturas do Virgílio. Se algum reparo me ocorre fazer à produção do Alexandre, é talvez o excesso de telas alinhadas ao longo das quatro paredes, com a nítida preocupação de mostrar trabalho. Aquela abada resulta mal graficamente. Um ou dois quadros de cada artista seria suficiente.

         - Mais tarde, levei o Carlos Rocha Pinto ao Café da Casa. Apesar de alguns momentos menos agradáveis entre nós  no passado, quis apresentá-lo à Maria João de forma a conseguir que a sua excelente galeria possa vir a expô-lo. À roda da grande mesa da entrada, decorreu conversa solta com o João Corregedor que se pela por discussão bravia. António Segurado que também estava presente, falho de memória, reprovou-me nunca ter ido à sua galeria apesar de três ou quatro visitas que fiz em companhia de alguns dos presentes. Seja como for, momentos de boa camaradagem, em torno de universos que nos unem por sobre alguma coisa que nos separa.


          - Nada disto porém, tem a força dos dias plenos de luz. Se há momentos e épocas do ano que me abrasam de felicidade, são estes que abrem as manhãs claras e as inundam da cor do sol quando se derrama sem ferir, quando cria e multiplica a terra da abastança dos frutos. Fico largos momentos parado a olhar o campo que parece vivo, palpitante, belo nas suas muitas cores, transportando o calor que não fere, a luz que não ofusca, a beleza que extasia. Morrer num dia assim, é abrir a eternidade à resplendência majestática de Deus.