Terça,
26.
Acontece
que levei a manhã comigo e deixei-a suspensa da quietude do dia que começava.
Nas horas que vieram ao dobrar do remanso pasmo de uma calma inopinada,
libertei eu a força que as atravessou da cumplicidade das ideias a remoque da
memória. Depois chegou a tarde, o calor instalou-se, a sonolência cruzou as
sombras e do conjunto, lá fora, sentado debaixo do guarda-sol à mesa larga,
conclui uma jornada plena de tudo onde o mais substancial foi nada. Com a brisa
chegou a noite. Uma vaga de estrelas banhou-me. Adormeci sob o manto luminoso
tecido da luz do dia.
- A manta de retalhos em que se
transformou o país e que o Mágico já não sabe como costurar, está ainda mais
esburacada na saúde. Eu continuo a achar que o actual ministro é uma pessoa
honesta e competente, embora circunscrito e apertado a um programa imposto pela
nossa terna UE. Mais de 230 mil consultas ficaram o ano passado por fazer em
oftalmologia. Eu sou testemunha. Andei um ano para obter um encontro com o
oftalmologista e mesmo assim só o consegui porque não os larguei com protestos
e e-mails.
- Eu pensei que os nossos pobres
jogadores de futebol podiam, enfim, ontem partir para umas douradas férias. Afinal
só vai ser no sábado. Eu tenho pena daqueles escravos ao serviço de potências
económicas que os esmifram até ao tutano, atirando-lhes com aquilo que eles
mais gostam – paletes de dinheiro. São uns pobres diabos que não param para
pensar. Gastam-se por um punhado de coisa nenhuma.
- Vivo rodeado da beleza das
hortênsias em flor. Sou mais feliz que aqueles infelizes que ganham a vida aos
chutos numa bola, sem nunca terem pousado o olhar na grandiosa formosura destas
donzelas que não atraiçoam quem as ama...