terça-feira, junho 26, 2018

Terça, 26.
Acontece que levei a manhã comigo e deixei-a suspensa da quietude do dia que começava. Nas horas que vieram ao dobrar do remanso pasmo de uma calma inopinada, libertei eu a força que as atravessou da cumplicidade das ideias a remoque da memória. Depois chegou a tarde, o calor instalou-se, a sonolência cruzou as sombras e do conjunto, lá fora, sentado debaixo do guarda-sol à mesa larga, conclui uma jornada plena de tudo onde o mais substancial foi nada. Com a brisa chegou a noite. Uma vaga de estrelas banhou-me. Adormeci sob o manto luminoso tecido da luz do dia.

         - A manta de retalhos em que se transformou o país e que o Mágico já não sabe como costurar, está ainda mais esburacada na saúde. Eu continuo a achar que o actual ministro é uma pessoa honesta e competente, embora circunscrito e apertado a um programa imposto pela nossa terna UE. Mais de 230 mil consultas ficaram o ano passado por fazer em oftalmologia. Eu sou testemunha. Andei um ano para obter um encontro com o oftalmologista e mesmo assim só o consegui porque não os larguei com protestos e e-mails.

         - Eu pensei que os nossos pobres jogadores de futebol podiam, enfim, ontem partir para umas douradas férias. Afinal só vai ser no sábado. Eu tenho pena daqueles escravos ao serviço de potências económicas que os esmifram até ao tutano, atirando-lhes com aquilo que eles mais gostam – paletes de dinheiro. São uns pobres diabos que não param para pensar. Gastam-se por um punhado de coisa nenhuma.


         - Vivo rodeado da beleza das hortênsias em flor. Sou mais feliz que aqueles infelizes que ganham a vida aos chutos numa bola, sem nunca terem pousado o olhar na grandiosa formosura destas donzelas que não atraiçoam quem as ama...