domingo, junho 03, 2018

Domingo, 3.
Sexta-feira cheguei por barco cedo ao Chiado. A cidade não havia ainda acordado e a subida da Praça do Comércio à Brasileira foi como se eu atravessasse as ruas em fantasma afundado nas memórias de uma capital morta e enterrada. O dia estava fresco e deslumbrante, nada contrariava a imprecisão da memória ante a descoberta da manhã clara e luminosa. A invasão turística ocorreu pelas dez horas e nem então a cidade se assemelhou a ela mesma, quero dizer, àquela que me viu nascer e fazer adulto. Ao entrar no café, a empregada loira e sacudida de gestos, disse-me: “Hoje é o primeiro a chegar.” E de súbito, a cidade, as ruas, o largo em frente, a voz dos que abancavam por perto, dos que na rua passavam, a luz aberta sobre os prédios, a vibração que subia do Tejo, o burburinho que cercava tudo e todos, reconstituiu-se-me para me trazer de volta o lugar onde nasci e vi pela primeira vez as sombras e a luz que haveriam de me impregnar da saudade do passado-presente.  

         - Fiquei com o João até muito tarde. Primeiro no almoço a que se nos juntou o Carlos, depois num alfarrábio da Rua do Alecrim e de seguida na velha Cervejaria da Trindade onde nos quedámos a conversar até às sete da tarde. Verdadeiro prazer, não só por muito em que discordámos, como por tudo aquilo em que estávamos de acordo sem quase precisão do uso das palavras.

         - “O que faz com que seja possível alcançar a Deus, é precisamente o facto de ele ser inacessível.” Apologético, Tertuliano, pág. 257, Alcalá. Por outras palavras a sua transcendência.

         - Começou mais um campeonato de futebol dito mundial. Eu espero e desejo que Portugal seja eliminado logo no princípio. Não é por nada – tenho pena dos jogadores que estão extremamente cansados, alguns abalados devido às cenas canalhas na Academia do Sporting, todos a precisar de férias.  

         - O ambicioso Pedro Sánchez, que de socialista nada tem, com apenas 84 lugares no Parlamento que lhe deram os espanhóis nas urnas, por obra e graça da “história democrática” como propagandeia a nossa imprensa, surripiou o poder a Rajoy que não é melhor nem pior que ele, e ei-lo sentado à mesa da manjedoura. Vai ser por pouco tempo. Quando os espanhóis forem de novo às urnas, sacodem-no de lá se não for brevemente atendendo à salada russa dos partidos que por oportunismo e raiva ao corrupto Mariano Rajoy e ao seu PP,  quiseram ver-se livre do homem.  


         - Diz o Público de hoje, baseado num desses inquéritos internacionais, que somos dos mais contentinhos com o Governo, mas os menos satisfeitos com a vida. Por outras palavras não passamos de uns patetas, para não dizer connards. Somos feitos de futebol, festas e bênçãos apostólicas.