Domingo,
3.
Sexta-feira
cheguei por barco cedo ao Chiado. A cidade não havia ainda acordado e a subida
da Praça do Comércio à Brasileira foi como se eu atravessasse as ruas em
fantasma afundado nas memórias de uma capital morta e enterrada. O dia estava
fresco e deslumbrante, nada contrariava a imprecisão da memória ante a
descoberta da manhã clara e luminosa. A invasão turística ocorreu pelas dez
horas e nem então a cidade se assemelhou a ela mesma, quero dizer, àquela que
me viu nascer e fazer adulto. Ao entrar no café, a empregada loira e sacudida
de gestos, disse-me: “Hoje é o primeiro a chegar.” E de súbito, a cidade, as
ruas, o largo em frente, a voz dos que abancavam por perto, dos que na rua passavam,
a luz aberta sobre os prédios, a vibração que subia do Tejo, o burburinho que
cercava tudo e todos, reconstituiu-se-me para me trazer de volta o lugar onde
nasci e vi pela primeira vez as sombras e a luz que haveriam de me impregnar da
saudade do passado-presente.
- Fiquei com o João até muito tarde.
Primeiro no almoço a que se nos juntou o Carlos, depois num alfarrábio da Rua
do Alecrim e de seguida na velha Cervejaria da Trindade onde nos quedámos a
conversar até às sete da tarde. Verdadeiro prazer, não só por muito em que
discordámos, como por tudo aquilo em que estávamos de acordo sem quase precisão
do uso das palavras.
- “O que faz com que seja possível
alcançar a Deus, é precisamente o facto de ele ser inacessível.” Apologético, Tertuliano, pág. 257,
Alcalá. Por outras palavras a sua transcendência.
- Começou mais um campeonato de
futebol dito mundial. Eu espero e desejo que Portugal seja eliminado logo no
princípio. Não é por nada – tenho pena dos jogadores que estão extremamente
cansados, alguns abalados devido às cenas canalhas na Academia do Sporting, todos
a precisar de férias.
- O ambicioso Pedro Sánchez, que de
socialista nada tem, com apenas 84 lugares no Parlamento que lhe deram os
espanhóis nas urnas, por obra e graça da “história democrática” como
propagandeia a nossa imprensa, surripiou o poder a Rajoy que não é melhor nem
pior que ele, e ei-lo sentado à mesa da manjedoura. Vai ser por pouco tempo.
Quando os espanhóis forem de novo às urnas, sacodem-no de lá se não for
brevemente atendendo à salada russa dos partidos que por oportunismo e raiva ao
corrupto Mariano Rajoy e ao seu PP, quiseram ver-se livre do homem.
- Diz o Público de hoje, baseado num
desses inquéritos internacionais, que somos dos mais contentinhos com o
Governo, mas os menos satisfeitos com a vida. Por outras palavras não passamos
de uns patetas, para não dizer connards.
Somos feitos de futebol, festas e bênçãos apostólicas.