segunda-feira, junho 11, 2018

Segunda, 11.
Aquela coisa chamada G7 reuniu-se mais uma vez no Canadá. Mas a coisa correu mal e a cacofonia foi mais que muita. Queriam discutir sobre a vida das pessoas? Não. Àquela gentinha só interessa os negócios, as taxas, os mercados. Os cidadãos não contam para nada, a não ser para trabalhar por salários baixos de forma a manter as multinacionais em velocidade de cruzeiro na bolsa. Acontece que estavam eles muito descansados, em sintonia dos dossiers há muito estudados, onde tudo o que se combina tem a força da corrupção, quando chega Donald Trump. O homem sendo o que é, é qualquer coisa. É um furacão que põe a sacrossanta ordem diplomática ronceira, o curto fim-de-semana nos hotéis mais caros, as recepções, a vaidade e a arrogância no top da humilhação. Ao vaidoso Justin Trudeau chamou mentiroso e um ser fraco e aos restantes olhou-os por momentos de alto e zarpou no seu avião particular para Singapura ao encontro de Kim Jong-un deixando-os a falar sozinhos. A verdade é esta: a Europa de Bruxelas é um trompe-l´oeil, vive do paleio, da governação medíocre que tem no aparato a antiga grandeza das monarquias, mas sem a preparação delas. Há um arranjo colectivo entre os políticos para deixar as coisas como estão. Dá-lhes menos trabalho e os arranjos e estratégias de há muito permitem pequenos consertos e tempo livre para a exibição e desfruto dos cargos.

         - O facto, porém, é este: se Trump não fosse imprevisível, desbocado e com aquela personalidade de homem de negócios e de construtor civil que ele na realidade é, não seria possível o encontro de amanhã com o ditador da Coreia do Norte. Obama que no segundo mandato se ajeitou ao gosto europeu, não conseguiu tal feito. Pelo contrário, abriu espaço para o estudo e montagem dos mísseis balísticos norte-coreanos com capacidade para atingir os EUA. O Insuflável é muitíssimo mais inteligente e espero que não ceda às propostas norte-americanas de suspensão do armamento nuclear. Aliás, por que raio havia ele de acabar com tal arma se os americanos e outros países as continuam a produzir! Para além de uma ingerência no país, é uma prepotência inadmissível. A paz só é total quando o desarmamento for uma realidade por todo o lado. Einstein propunha: “Desarmar ou morrer!” A Segunda Grande Guerra estava em marcha. Espero que este momento não seja o dos anos 1935 a 1939.

         - O trabalho literário absorve-me a um ponto que tudo à minha volta se eclipsa. Vivo dia e noite no convívio das minhas personagens, como e durmo com elas, tenho-as por convidadas há ano e meio e a casa está sempre de porta aberta para receber os amigos e amigas delas. Mesmo quando este fim-de-semana os amigos se instalaram, era como se à mesa estivesse também Rui Gonçalves, Flávio Jardim, Rita, Lúcia, Joaquina, o banqueiro Pimentel da Gaia, o juiz Apostolatos. Como escolhi viver comigo, não consigo travar esta obsessão e só espero não ter um dia algum desnorte mental. Acresce que a sociedade muda constantemente e eu quero ter tempo para registar essa voz surda que nela perpassa e fazer do meu olhar o ponto de vigia que traduz a história presente. 


         - Cala-te. Suspende a avalanche mental que em ti é um tormento. Vai dar de beber ao caudal de ideias, emoções, revoltas, desaparece e nada até que o teu cérebro fique embriagado do exercício aquático que te tranquiliza.