sábado, janeiro 13, 2018

Sábado, 13.
Esta manhã errando pelo centro de Setúbal em busca não sei de quê, talvez de outros tempos mais ligeiros e saudáveis, mais humanos e livres, constatei quanto a cidade mudou desde a última vez que me perdi em passeios solitários pelas suas ruas e praças, vielas e ruelas árabes. Há tanta coisa nova que abriu, alguma com um leve toque clássico onde apetece ficar por horas a meditar, outras empurradas pelo modernismo que se compara a tudo o que já existe e parece tirado a papel químico. Subsiste, todavia, um lampejo humano, um equilíbrio que sustem os delírios arquitecturais, uma atmosfera muito século dezanove quando a permissividade e a tolerância faziam da cidade pioneira no diálogo não só intergeracional como no dos costumes. Embalado pelos sentidos, entrei no Mercado do Livramento. Que mundo! Que beleza! Que recanto que aceita todas as raças, línguas, actividades económicas! Nos seus corredores, entre bancas de hortaliça e peixe, encontra-se a madame convencida de lábio descaído, o marido barrigudo que lhe segue os passos como um cordeiro, o juiz empinocado de gravata escarlate, o actor tombado na desgraça pela falta de papéis à sua altura, o artista de telenovelas decadente, o músico de passo bêbado e cigarro ao canto dos lábios queimados, o autarca com boca de peixe, por fim, às centenas, os pobres em via-sacra pelos lugares dos legumes, passando e repassando em busca do preço mais conforme à sua carteira onde no fundo pouco mais resta que uns míseros patacos. Que dignidade a destes infelizes! Nos seus olhos repousa uma resiliência impressionante, o dom divino que os aproxima do principado respaldo da alma.

         - Terminou a campanha para as directas no PSD. Que rio de asneiras, ciladas, facadas nas costas, insultos, acusações pessoais, algaraviada, mentiras e toda a sorte de golpes baixos como se estivessem em cima de um ringue e o galardão fosse o troféu dourado com as siglas PSD, perdão, PPD/PSD. 

         - Talvez me engane, mas acho que se prepara uma grande manobra para afastar definitivamente Joana Marques Vidal do cargo de Procuradora-Geral da República. Foi do melhor que passou pela instituição. Espírito livre, independente, profundo, equilibrado, democrático, destemido, discreto, competente (não me ocorrem mais adjectivos para qualificar um ser absolutamente brilhante). Veio de Coimbra – e isso diz tudo. O PS é mestre na disciplina de golpes pelas costas. O próximo PGR vai mandar arquivar todos os processos que correm sob a orientação democrática da actual personalidade. Joana Vidal é isso mesmo: uma personalidade.

         - Angela Merkel e Martin Schulz entenderam-se para formar governo. Um rude golpe (para mim óptimo) para a UE. A dupla não vai durar muito. O homem já nos disse ao que vem.


         - Depois dos incêndios recentes que consumiram 6600 hectares em Santa Bárbara e Ventura, todo o sul da Califórnia foi atingido por fortes e persistentes chuvas que provocaram deslizamentos de terra, com lama e entulho, levando à sua passagem tudo o que encontrava. Morreram pelo menos 17 pessoas, há alguns desaparecidos.