Sábado,
13.
Esta
manhã errando pelo centro de Setúbal em busca não sei de quê, talvez de outros
tempos mais ligeiros e saudáveis, mais humanos e livres, constatei quanto a
cidade mudou desde a última vez que me perdi em passeios solitários pelas suas
ruas e praças, vielas e ruelas árabes. Há tanta coisa nova que abriu, alguma
com um leve toque clássico onde apetece ficar por horas a meditar, outras
empurradas pelo modernismo que se compara a tudo o que já existe e parece
tirado a papel químico. Subsiste, todavia, um lampejo humano, um equilíbrio que
sustem os delírios arquitecturais, uma atmosfera muito século dezanove quando a
permissividade e a tolerância faziam da cidade pioneira no diálogo não só intergeracional
como no dos costumes. Embalado pelos sentidos, entrei no Mercado do Livramento.
Que mundo! Que beleza! Que recanto que aceita todas as raças, línguas,
actividades económicas! Nos seus corredores, entre bancas de hortaliça e peixe,
encontra-se a madame convencida de lábio descaído, o marido barrigudo que lhe
segue os passos como um cordeiro, o juiz empinocado de gravata escarlate, o
actor tombado na desgraça pela falta de papéis à sua altura, o artista de
telenovelas decadente, o músico de passo bêbado e cigarro ao canto dos lábios
queimados, o autarca com boca de peixe, por fim, às centenas, os pobres em
via-sacra pelos lugares dos legumes, passando e repassando em busca do preço
mais conforme à sua carteira onde no fundo pouco mais resta que uns míseros
patacos. Que dignidade a destes infelizes! Nos seus olhos repousa uma
resiliência impressionante, o dom divino que os aproxima do principado respaldo
da alma.
- Terminou a campanha para as directas
no PSD. Que rio de asneiras, ciladas, facadas nas costas, insultos, acusações
pessoais, algaraviada, mentiras e toda a sorte de golpes baixos como se
estivessem em cima de um ringue e o galardão fosse o troféu dourado com as
siglas PSD, perdão, PPD/PSD.
- Talvez me engane, mas acho que se
prepara uma grande manobra para afastar definitivamente Joana Marques Vidal do
cargo de Procuradora-Geral da República. Foi do melhor que passou pela instituição.
Espírito livre, independente, profundo, equilibrado, democrático, destemido,
discreto, competente (não me ocorrem mais adjectivos para qualificar um ser absolutamente
brilhante). Veio de Coimbra – e isso diz tudo. O PS é mestre na disciplina de
golpes pelas costas. O próximo PGR vai mandar arquivar todos os processos que
correm sob a orientação democrática da actual personalidade. Joana Vidal é isso
mesmo: uma personalidade.
- Angela Merkel e Martin Schulz
entenderam-se para formar governo. Um rude golpe (para mim óptimo) para a UE. A
dupla não vai durar muito. O homem já nos disse ao que vem.
- Depois dos incêndios recentes que
consumiram 6600 hectares em Santa Bárbara e Ventura, todo o sul da Califórnia foi
atingido por fortes e persistentes chuvas que provocaram deslizamentos de
terra, com lama e entulho, levando à sua passagem tudo o que encontrava.
Morreram pelo menos 17 pessoas, há alguns desaparecidos.