Quarta,
17.
O
Papa chegou ao Chile no meio de protestos, igrejas vandalizadas, algumas
incendiadas. Tudo porque o clero chileno tem no seu seio muitos sacerdotes
pedófilos. Francisco lamentou que crianças tenham sido abusadas por aqueles que
era suposto defendê-las e disse sentir vergonha. Decerto a mesma vergonha que
sente o Presidente da República quando soube que um seu amigo, pároco de Santo
Condestável, em Campo d´Ourique, Lisboa está acusado de roubar as imagens dos
altares. Bom. Afinal não há um trabalho árduo da parte do clero para se igualar
ao comum dos mortais?!
- Um casal americano manteve durante
anos uma família numerosa de quinze filhos em cativeiro sem que os vizinhos
dessem por nada. Quando a polícia chegou, viu um cenário de terror, com
crianças acorrentadas e subnutridas. O mais novo tem dois anos, o mais velho 29.
A vizinhança nunca deu por nada, não obstante raramente ver a colónia das
raparigas e rapazes. O casal pertencia à igreja Pentecostal (protestante) e
acreditava que Deus os escolheu para terem filhos. Foi uma das filhas que
conseguiu fugir e pediu socorro às autoridades pelo telemóvel encontrado em
casa. A América é fértil neste tipo de demência.
- Continuando nos EUA. Uma nova droga
mil vezes mais potente que a heroína, concebida contra a dor, anda a fazer
estragos. Trata-se de Fentanyl – um medicamento que a indústria farmacêutica
quer seja vendido com a mesma irresponsabilidade e acrescidos lucros que a
Aspirina. Esta sociedade de consumo, dita de progresso ao serviço das pessoas,
é afinal uma napa de infelicidade e tristeza. Ninguém está satisfeito. Depois de
saciado um prazer, logo chega outro. A roda não pára. A insatisfação é uma
doença que o Fentanyl pretende curar.
- Ontem fui ao meu novo dentista que tem
consultório no Chiado, fazer aquilo a que agora se chama higienização dos
dentes. Ao longo da vida tive a tratar-me os estomatologistas Dr. Eurico de
Freitas, Dr. Gambeta, Dr. Oliveira e agora o Dr. Raul. O primeiro, foi por
apresentação do Saramago e da Isabel que eram seus doentes, o segundo e
terceiro pelos Couto, o último pelo António Carmo. Suponho que fechei o ciclo.
Eu explico. Estava farto da gulosice das clínicas dentárias, com médicos
especializados nisto e naquilo, obcecados pelos implantes, que nos despejam os
bolsos no afã de nos extraírem todos os dentes. Só lhes interessa quem está
disposto a andar de dentuça brilhante imaculada, comparada, salvo seja, com as
impressoras e os tinteiros de marca, quero dizer, uma conta-corrente em
assistência. Acontece que este gabinete dentário, possui apenas um casal de
médicos e uma outra clínica e sabe tanto ou mais que as clínicas especializadas
em implantes e extração de dentes, limpezas e tártaro, etc. e... por um preço
absolutamente aceitável. Depois, somos atendidos como família, tudo nos é
explicado e nada nos é imposto. Além de que, enquanto uns e outros sempre
desdisseram do trabalho do anterior colega, o Dr. Raul não emitiu nenhuma
reprovação. As novas clínicas verticais que proliferam por todo o lado, só
gostam de clientes que lá deixem os dentes e... a carteira.
- A nossa querida Câmara de Palmela,
reconheceu o erro e mandou-me um e-mail a levantar o “processo executivo”. Só
não disse por que motivo accionou o processo quatro dias após - e no prazo - eu
ter liquidado a factura. Vai ter que me explicar. Uma autarquia (ainda por cima
comunista) não deve ameaçar os munícipes porque sim. Imaginem a bagunça que vai
ser quando as câmaras tiverem a autonomia toda!
- Retomemos o trabalho no romance (Pág.
140) agora que o espírito parece limpo da merdelhice editorial que o veio inquietar.
Um artista é um diamante frágil. Qualquer caruma o derrota, renascendo do seu
interior de imediato a força ou a garra ou a sobrevivência que lhe permite encarar
cada dia com deslumbre a agradecimento. Há um aceno de esperança ao largo de
mim.