quarta-feira, janeiro 17, 2018

Quarta, 17.
O Papa chegou ao Chile no meio de protestos, igrejas vandalizadas, algumas incendiadas. Tudo porque o clero chileno tem no seu seio muitos sacerdotes pedófilos. Francisco lamentou que crianças tenham sido abusadas por aqueles que era suposto defendê-las e disse sentir vergonha. Decerto a mesma vergonha que sente o Presidente da República quando soube que um seu amigo, pároco de Santo Condestável, em Campo d´Ourique, Lisboa está acusado de roubar as imagens dos altares. Bom. Afinal não há um trabalho árduo da parte do clero para se igualar ao comum dos mortais?!

         - Um casal americano manteve durante anos uma família numerosa de quinze filhos em cativeiro sem que os vizinhos dessem por nada. Quando a polícia chegou, viu um cenário de terror, com crianças acorrentadas e subnutridas. O mais novo tem dois anos, o mais velho 29. A vizinhança nunca deu por nada, não obstante raramente ver a colónia das raparigas e rapazes. O casal pertencia à igreja Pentecostal (protestante) e acreditava que Deus os escolheu para terem filhos. Foi uma das filhas que conseguiu fugir e pediu socorro às autoridades pelo telemóvel encontrado em casa. A América é fértil neste tipo de demência.

         - Continuando nos EUA. Uma nova droga mil vezes mais potente que a heroína, concebida contra a dor, anda a fazer estragos. Trata-se de Fentanyl – um medicamento que a indústria farmacêutica quer seja vendido com a mesma irresponsabilidade e acrescidos lucros que a Aspirina. Esta sociedade de consumo, dita de progresso ao serviço das pessoas, é afinal uma napa de infelicidade e tristeza. Ninguém está satisfeito. Depois de saciado um prazer, logo chega outro. A roda não pára. A insatisfação é uma doença que o Fentanyl pretende curar.  

         - Ontem fui ao meu novo dentista que tem consultório no Chiado, fazer aquilo a que agora se chama higienização dos dentes. Ao longo da vida tive a tratar-me os estomatologistas Dr. Eurico de Freitas, Dr. Gambeta, Dr. Oliveira e agora o Dr. Raul. O primeiro, foi por apresentação do Saramago e da Isabel que eram seus doentes, o segundo e terceiro pelos Couto, o último pelo António Carmo. Suponho que fechei o ciclo. Eu explico. Estava farto da gulosice das clínicas dentárias, com médicos especializados nisto e naquilo, obcecados pelos implantes, que nos despejam os bolsos no afã de nos extraírem todos os dentes. Só lhes interessa quem está disposto a andar de dentuça brilhante imaculada, comparada, salvo seja, com as impressoras e os tinteiros de marca, quero dizer, uma conta-corrente em assistência. Acontece que este gabinete dentário, possui apenas um casal de médicos e uma outra clínica e sabe tanto ou mais que as clínicas especializadas em implantes e extração de dentes, limpezas e tártaro, etc. e... por um preço absolutamente aceitável. Depois, somos atendidos como família, tudo nos é explicado e nada nos é imposto. Além de que, enquanto uns e outros sempre desdisseram do trabalho do anterior colega, o Dr. Raul não emitiu nenhuma reprovação. As novas clínicas verticais que proliferam por todo o lado, só gostam de clientes que lá deixem os dentes e... a carteira.  

         - A nossa querida Câmara de Palmela, reconheceu o erro e mandou-me um e-mail a levantar o “processo executivo”. Só não disse por que motivo accionou o processo quatro dias após - e no prazo - eu ter liquidado a factura. Vai ter que me explicar. Uma autarquia (ainda por cima comunista) não deve ameaçar os munícipes porque sim. Imaginem a bagunça que vai ser quando as câmaras tiverem a autonomia toda!


         - Retomemos o trabalho no romance (Pág. 140) agora que o espírito parece limpo da merdelhice editorial que o veio inquietar. Um artista é um diamante frágil. Qualquer caruma o derrota, renascendo do seu interior de imediato a força ou a garra ou a sobrevivência que lhe permite encarar cada dia com deslumbre a agradecimento. Há um aceno de esperança ao largo de mim.