Terça, 1 de Março.
Na piscina onde fui como um condenado à
morte, encontrei dois latagões depilados na faixa daqueles que tendo ganho já
três medalhas de ouro em olimpíadas, no caso uma rapariga jeitosa e eu, hoje
treinam com fruição e calma de quem se sente laureado. Disse-lhes que passassem
para a faixa do lado, onde se preparam os que aspiram a idênticas glórias. De
imediato sonora gargalha.
- No final da peça Electra de
Sófocles, traduzida por Maria do Céu Fialho, citada por Frederico Lourenço no
seu in-te-re-ssan-ti-ssi-mo ensaio Grécia
Revisitada, encontrei a expressão pouco usual “entenebrecer” que, ao
contrário dos leitores da obra que (parece) consideram a palavra estranha, eu
acho-a redonda, envolvente, forte. Fui ver o que dela dizia Cândido de
Figueiredo e li: “Cercar de trevas. Entristecer. Enlutar. Encher-se de sombras.
Tornar-se escuro. Escurecer.” Acresce que ela deriva do latim tenebrescere. E, contudo, o final da
peça fala do matricídio que Orestes leva a cabo ajudado pela irmã e que
inspirou Richard Strauss. Maria do Céu Fialho diz “entenebrecer de Electra
libertada”. Curioso, não é?
- Que todo esse mundo que se agita em nome de Deus saiba que Ele nos
criou para a alegria, a fraternidade, contra o desespero, as trevas e a morte.
- Há outra polémica a
ensombrar o SNS. A bastonária dos enfermeiros, disse à RR que a eutanásia é
praticada há muito nos hospitais portugueses. Depois, pressionada, veio dizer
que não foi isso que tinha dito, mas eu sou dos que ouvi e sou de opinião que
não só é verdade que fez aquelas afirmações, como o crime é prática não digo
corrente, mas com expressão um pouco por todo o lado. Contra ela está todo o
mundo: médicos, enfermeiros, hospitais e políticos. E compreende-se porquê. A
minha impressão, como disse, é que ela fala verdade. Contudo, não vou ao ponto de
achar que seja generalizado, mas que circunstancialmente a coisa acontece,
acontece. E muitas vezes em concordância com o paciente e a família. Aquele
porque está farto de sofrer, esta porque está cansada de trabalhos e
preocupações. Espero que o ministro da Saúde com o seu bom senso, equilíbrio e
seriedade, nos diga o que verdadeiramente se passa. Ele é o melhor de todos os
ministros e a meu ver o primeiro-ministro...
- Apostou-se numa fantasia quando se pretendeu o cessar fogo no
fim-de-semana passado na Síria. O resultado é que os combates aconteceram por
aqui e por acolá, e todos dizem-se inocentes e ninguém sabe quem quebrou o
acordo.
- Que dia soberbo! Aproveitei, meti-me no carro, e fui almoçar ao sol
num restaurante em Alcochete. De seguida, ocupei uma mesa numa esplanada, e fiquei
por duas horas a ler o romance de Mário Cláudio, Astronomia. Momentos encantatórios, divertidos, que desenham uma
época, uma família (a sua), uma casa e o despontar do escritor, enfim, liberto
das amarras morais e familiares pronto para se confessar ao leitor com humor e
profundidade.