terça-feira, março 01, 2016

Terça, 1 de Março.
Na piscina onde fui como um condenado à morte, encontrei dois latagões depilados na faixa daqueles que tendo ganho já três medalhas de ouro em olimpíadas, no caso uma rapariga jeitosa e eu, hoje treinam com fruição e calma de quem se sente laureado. Disse-lhes que passassem para a faixa do lado, onde se preparam os que aspiram a idênticas glórias. De imediato sonora gargalha.

         - No final da peça Electra de Sófocles, traduzida por Maria do Céu Fialho, citada por Frederico Lourenço no seu in-te-re-ssan-ti-ssi-mo ensaio Grécia Revisitada, encontrei a expressão pouco usual “entenebrecer” que, ao contrário dos leitores da obra que (parece) consideram a palavra estranha, eu acho-a redonda, envolvente, forte. Fui ver o que dela dizia Cândido de Figueiredo e li: “Cercar de trevas. Entristecer. Enlutar. Encher-se de sombras. Tornar-se escuro. Escurecer.” Acresce que ela deriva do latim tenebrescere. E, contudo, o final da peça fala do matricídio que Orestes leva a cabo ajudado pela irmã e que inspirou Richard Strauss. Maria do Céu Fialho diz “entenebrecer de Electra libertada”. Curioso, não é?  

         - Que todo esse mundo que se agita em nome de Deus saiba que Ele nos criou para a alegria, a fraternidade, contra o desespero, as trevas e a morte.

         - Há outra polémica a ensombrar o SNS. A bastonária dos enfermeiros, disse à RR que a eutanásia é praticada há muito nos hospitais portugueses. Depois, pressionada, veio dizer que não foi isso que tinha dito, mas eu sou dos que ouvi e sou de opinião que não só é verdade que fez aquelas afirmações, como o crime é prática não digo corrente, mas com expressão um pouco por todo o lado. Contra ela está todo o mundo: médicos, enfermeiros, hospitais e políticos. E compreende-se porquê. A minha impressão, como disse, é que ela fala verdade. Contudo, não vou ao ponto de achar que seja generalizado, mas que circunstancialmente a coisa acontece, acontece. E muitas vezes em concordância com o paciente e a família. Aquele porque está farto de sofrer, esta porque está cansada de trabalhos e preocupações. Espero que o ministro da Saúde com o seu bom senso, equilíbrio e seriedade, nos diga o que verdadeiramente se passa. Ele é o melhor de todos os ministros e a meu ver o primeiro-ministro...

         - Apostou-se numa fantasia quando se pretendeu o cessar fogo no fim-de-semana passado na Síria. O resultado é que os combates aconteceram por aqui e por acolá, e todos dizem-se inocentes e ninguém sabe quem quebrou o acordo.    


         - Que dia soberbo! Aproveitei, meti-me no carro, e fui almoçar ao sol num restaurante em Alcochete. De seguida, ocupei uma mesa numa esplanada, e fiquei por duas horas a ler o romance de Mário Cláudio, Astronomia. Momentos encantatórios, divertidos, que desenham uma época, uma família (a sua), uma casa e o despontar do escritor, enfim, liberto das amarras morais e familiares pronto para se confessar ao leitor com humor e profundidade.