Sexta, 11.
O Governo socialista que tudo promete e
alguma coisa vai dando impulsionado pelo PCP e BE, diz cumprir a Constituição
ao oferecer gratuitamente livros aos alunos do Ensino Básico. Pasme-se! Num
país que acima de tudo dá dinheiro – e muito – a ganhar às editoras e aos
autores dos projectos de ensino, onde os programas de televisão são todos a
baixo de cão, o futebol impera como indiscutível base cultural, os manuais escolares
mudam todos os anos e às vezes mais do que uma vez ao ano, os políticos falam
mal, o jargão inglês colonizou a língua portuguesa, os escritores pagam para
serem editados, as ajudas à cultura são quase inexistentes, o nível de
instrução é baixíssimo, a educação passou à história, todos nivelados por baixo
e sem qualquer interesse ou curiosidade no conhecimento, que outro nome se pode
dar a esta benesse socialista senão demagógico. Sim, demagogia pura quando o
essencial reside a montante de todo o princípio civilizacional que integra a formação
no conjunto e ao longo da vida do ser humano, e comunitariamente integrado no
desenvolvimento a todos os níveis. Disseram e impuseram até que só vale a pena
estudar, aprender, com um único fim: ganhar dinheiro. “Se não fores doutor,
nunca terás uma vida airada, não serás ninguém.” Assim falam os pais aos filhos
e deste modo o país está cheios de doutores da mula ruça, doutorados
analfabetos, gentinha vulgar, carregando a importância que o dinheiro oferece aos
pobres de Cristo.
- Ora, ora! Quem é o político desta semana a contas com os tribunais,
naturalmente um doutor, pois então, que foi acusado de ilegalidades financeiras
em contratos no valor de 4,4 milhões de euros, senhor de casas e propriedades,
antigo presidente da Câmara de Gaia e homem
forte do PSD, vindo dessa massa anónima de remediados antes do 25 de
Abril, hoje abastado senhor do Norte, com lacaios aos seus pés, nova esposa ou
esposa nova, que nos jornais e televisões debitava moralidade, honra e saber na
gestão da autarquia. Para que o ilustre doutor não morra incógnito que, de
resto, não merece aqui deixo o seu nome: Luís Filipe de Menezes Lopes.
- Helder de Sousa é tempo de ajustares o discurso ao politicamente
correcto. Deixa-te de censurar quotidianamente este e aquele, isto e aquilo. Será
que não enxergas que o Portugal da democracia é um jardim maravilhoso, cheio de
gente culta, trabalhadora, nada oportunista, onde não medram gatunos, mas governantes
honestos que põem a nação acima das suas ambições e capelas partidárias, que
erradicou a pobreza e a harmonia social expande-se em cintilações de Norte a
Sul, com as famílias unidas, os impostos em dia, a Igreja omnipresente, a
solidariedade montada para o espectáculo da caridade transmitido à hora em que
estão todos à manjedoura da TV, e o Presidente da República com o primeiro-ministro
ao seu lado esquerdo como manda o protocolo, os dois mostrando um sorriso alvo,
levemente cândido, sem esgares de hipocrisia, antes lavados de profundos
sentimentos e promessas invadidas de misericordiosas que disputam os corações
dos telespectadores, a janta de pizas e vinho tinto terminada, filhos e netos fingindo
dormir amarrados no quarto a consolas de jogos ou à conversa indecente no
Facebook, despachadas as telenovelas, os royalty-shows,
os concursos, transformados na Cartilha
Matinal, a noite longa indeferida das responsabilidades do trabalho do dia
seguinte, enfim, um país mudado, de algum modo um paraíso, com bom clima, muita
fé em Deus e existência coerente com os Mandamentos por Ele pregados. Como
queres tu, homem de Deus, ter leitores, recepções, alguém que aprecie o teu
labor, se tu vives como um selvagem, recusando o discurso estruturante que
tanto cativa o comum dos teus contemporâneos, dizer-bem-deste-para-seres-deificado-por-ele,
de modo a que as portas das capelas literárias se abram para a tua escrita
desalmada, o teu intelecto nietzscheano, a tua altivez onde morre desesperada a
solidão e o silêncio fica agrilhoado na folha em branco que recusa elogiar a
mediocridade e estender a mão ao figurão bajulador e nédio que cresce como
cogumelos bravios à sombra dos republicados e democratas, que sofrem horrores
por haver tanta miséria no país. Encara-te, homem. Sê como os demais e verás
descer do céu em cachão toda a cupidez compaginada na prática do rapa-tacho que é hoje de todas
as profissões a mais rentável e respeitável.
- As pessoas que pensam muito na idade
morrem cedo.