Sexta, 4.
O quotidiano nacional não tem razão de
existir e a nós parece-nos que falta qualquer coisa se todos os dias os
senhores juízes e procuradores não trouxerem ao proscénio da nossa triste
existência a condenação de mais um insaciável coberto da podridão que lhe purpureia
a alma. Desta feita, trata-se de um homem que aparece sempre de rosto compungido
de infelicidade, de seu nome Manuel Damásio, ligado noutros tempos ao Benfica
(pois então!), muito crente ao ponto de ter mandado construir uma capela no
subsolo do Estádio da Luz, que declarou ganhar o salário de 600 e poucos euros,
enfim, o quadro típico da nossa ilustre e católica sociedade. Pois bem ele é o
preso do dia. Está indiciado por corrupção, negócios a nível internacional com associação
ao compincha José Veiga, na chamada Operação Rota do Atlântico. Estou a
esfregar as mãos de ansiedade para saber quem se apresenta amanhã. A minha
querida vizinha Maria Luís Albuquerque? Filha, não lhe desejo tanto.
- Ontem depois de ter estado uns instantes na Brasileira, desci o Chiado
para entrar na fnac. Entrada por saída devido o cheiro nauseabundo a peidos que
enchia o espaço de baixo. Fugi espavorido.
- Mais tarde almocei com o Simão que me levou a um restaurante miserável
na Rua dos Correeiros, vazio, frio, triste e onde comemos uma comida da mitra
de vários dias. Salvou-se – e isso é sempre para mim o mais importante – o
convívio, o prazer da conversa, a esperança nos horizontes que se alargaram uma
vez mais devido ao nome de um grande editor que saltou da memória e por onde
Madame Juju possa entrar triunfante. Dali subimos ao seu andar na Rua dos
Fanqueiros onde com a Conceição criou um espaço agradável, de cima abaixo
coberto de livros raros, o conjunto simpático e confortável, onde notei o cunho
da Conceição. Depois, dei um salto ao CI para levantar o sobretudo que tinha
comprado a semana passada. Num corredor deparei com uma velha amiga que não via
há uma data de anos. Pertence ao mundo hipócrita do faz-de-conta e nem a idade conseguiu
apagar a fantasia em que sempre viveu. Fugi espavorido (também).