Quarta, 9.
Na Europa do euro é tudo uma questão de
negócio. É o que está a acontecer nesta altura com os migrantes que chegam
exangues à Turquia. Os tecnocratas de Bruxelas, pagam para os reter por lá
receosos que essa multidão de aflitos se transformem em invasores e destruam os
venerandos esquemas de vida europeus. É mais fácil para essa praga de
negociadores lavar a consciência com um punhado de notas branqueado num
qualquer paraíso fiscal, que enfrentar o problema humano que a todos diz
respeito e na origem do qual está a sua devotada e acatada consonância com as
barbaridades americanas. Estes esquemas que dão uma imagem lamentável da
fraqueza e da falta de horizontes da UE, vão custar muito caro ao equilíbrio e
unidade da União. São mais um contributo para a liquidar cedo ou tarde. A
impressão que se tem, é que somos governados por fantoches a soldo de fantasmas
com um poder enorme para conduzir o destino de milhões de almas ao inferno.
- As trevas deixaram o Palácio de Belém. Durante dez anos, fomos guiados
por uma sombra cadavérica, espécie de múmia de esgares malsãos, discursos
enrolados numa língua cuja sintaxe não havíamos nunca escutado e chegava aos
nossos ouvidos como pedras arremessadas contra a nossa estupefacção. Como foi
possível é o que as gentes atónitas hoje questionam, esquecidas já que foram
elas, por falta de informação e grudadas na propaganda que deifica o chico
esperto, o oportunista e o vingativo, o colocaram aonde não era suposto algum
dia chegar. Não tanto porque as origens humildes o impeçam, mas porque a ausência
de grandeza, de espírito livre, a pequenez resguardada numa suposta importância
que advém da frustração, da importância que julga possuir, fizeram dele uma
figura estranha à democracia e à cultura nas suas formas simples e profundas
que estão na origem de toda a filosofia humanista. Qualquer um que venha a
seguir é sempre melhor. Pela simples razão –pior não pode ser, não existe.
- Fernando ao telefone a quem falei do contacto com um editor por ele
aconselhado, primeiro por e-mail, depois por telefone. Neste último, o ilustre
editor, mandou dizer pelo lacaio que estava em reunião. Lembrei-me logo do espanto
dos empresários estrangeiros com quem falava na outra vida que foi a minha: “Em
Portugal as pessoas estão sempre em reunião. – Para se darem ares de importância
ou como forma de se recusarem a recebê-lo”- informava eu. Fernando Dacosta foi
mais conciso: “Não voltes a telefonar-lhe. Tu não precisas de te rebaixar.”