quarta-feira, março 09, 2016

Quarta, 9.
Na Europa do euro é tudo uma questão de negócio. É o que está a acontecer nesta altura com os migrantes que chegam exangues à Turquia. Os tecnocratas de Bruxelas, pagam para os reter por lá receosos que essa multidão de aflitos se transformem em invasores e destruam os venerandos esquemas de vida europeus. É mais fácil para essa praga de negociadores lavar a consciência com um punhado de notas branqueado num qualquer paraíso fiscal, que enfrentar o problema humano que a todos diz respeito e na origem do qual está a sua devotada e acatada consonância com as barbaridades americanas. Estes esquemas que dão uma imagem lamentável da fraqueza e da falta de horizontes da UE, vão custar muito caro ao equilíbrio e unidade da União. São mais um contributo para a liquidar cedo ou tarde. A impressão que se tem, é que somos governados por fantoches a soldo de fantasmas com um poder enorme para conduzir o destino de milhões de almas ao inferno.

         - As trevas deixaram o Palácio de Belém. Durante dez anos, fomos guiados por uma sombra cadavérica, espécie de múmia de esgares malsãos, discursos enrolados numa língua cuja sintaxe não havíamos nunca escutado e chegava aos nossos ouvidos como pedras arremessadas contra a nossa estupefacção. Como foi possível é o que as gentes atónitas hoje questionam, esquecidas já que foram elas, por falta de informação e grudadas na propaganda que deifica o chico esperto, o oportunista e o vingativo, o colocaram aonde não era suposto algum dia chegar. Não tanto porque as origens humildes o impeçam, mas porque a ausência de grandeza, de espírito livre, a pequenez resguardada numa suposta importância que advém da frustração, da importância que julga possuir, fizeram dele uma figura estranha à democracia e à cultura nas suas formas simples e profundas que estão na origem de toda a filosofia humanista. Qualquer um que venha a seguir é sempre melhor. Pela simples razão –pior não pode ser, não existe.


         - Fernando ao telefone a quem falei do contacto com um editor por ele aconselhado, primeiro por e-mail, depois por telefone. Neste último, o ilustre editor, mandou dizer pelo lacaio que estava em reunião. Lembrei-me logo do espanto dos empresários estrangeiros com quem falava na outra vida que foi a minha: “Em Portugal as pessoas estão sempre em reunião. – Para se darem ares de importância ou como forma de se recusarem a recebê-lo”- informava eu. Fernando Dacosta foi mais conciso: “Não voltes a telefonar-lhe. Tu não precisas de te rebaixar.”