domingo, março 13, 2016

Domingo, 13.
As homílias dominicais são uma longa palestra para o celebrante difundir a vaidade da sua oratória, que mais não é que um constante exaurir de medos e ameaças de Deus contra os fiéis ali contraídos de temor. Esta tem sido a forma que a Igreja encontrou através dos séculos para atrair os ímpios. Toda a sua doutrina foi montada sobre o pavor, o mistério da morte, aproveitando a ignorância e o obscurantismo típicos do “bom povo português”, de modo a arregimentá-lo em torno de uma confissão que parece vir de um malfeitor vingativo. Eu preferiria que os padres nos ensinassem a rezar, por ser a oração não só a linguagem que Deus prefere, como através dela todos nos reconhecemos irmãos. Qualquer método é adequado, desde que estejamos disponíveis.

         - Comprei no mercado de Pinhal Novo um chapéu de palha.


         - Comecei a lenta correcção do romance Matmatu que tinha concluído há três anos. Ao desenterrar o manuscrito, esbarrei com este subtítulo que não me lembrava de o ter escrito: “O que se apaga, fica.” Depois, pensando melhor, vindo nas reminiscências que a memória é fértil em nos atravancar, julgo que o pedi emprestado a um escritor hoje esquecido, Yves Navarre. Depois, à medida que o dia ia avançando e eu me entretinha com pequenos trabalhos lá fora que quase me paralisaram os rins, surgiu Maurice Blanchot que diz qualquer coisa assim: Quem quiser recordar algo deve confiar no esquecimento, a esse risco que é o esquecimento absoluto e a esse belo azar que acaba por ser a recordação. Bom.