Domingo, 13.
As homílias dominicais são uma longa palestra
para o celebrante difundir a vaidade da sua oratória, que mais não é que um
constante exaurir de medos e ameaças de Deus contra os fiéis ali contraídos de
temor. Esta tem sido a forma que a Igreja encontrou através dos séculos para
atrair os ímpios. Toda a sua doutrina foi montada sobre o pavor, o mistério da
morte, aproveitando a ignorância e o obscurantismo típicos do “bom povo
português”, de modo a arregimentá-lo em torno de uma confissão que parece vir
de um malfeitor vingativo. Eu preferiria que os padres nos ensinassem a rezar,
por ser a oração não só a linguagem que Deus prefere, como através dela todos
nos reconhecemos irmãos. Qualquer método é adequado, desde que estejamos
disponíveis.
- Comprei no mercado de Pinhal Novo um chapéu de palha.
- Comecei a lenta correcção do romance Matmatu que tinha concluído há três anos. Ao desenterrar o
manuscrito, esbarrei com este subtítulo que não me lembrava de o ter escrito:
“O que se apaga, fica.” Depois, pensando melhor, vindo nas reminiscências que a
memória é fértil em nos atravancar, julgo que o pedi emprestado a um escritor
hoje esquecido, Yves Navarre. Depois, à medida que o dia ia avançando e eu me
entretinha com pequenos trabalhos lá fora que quase me paralisaram os rins,
surgiu Maurice Blanchot que diz qualquer coisa assim: Quem quiser recordar algo
deve confiar no esquecimento, a esse risco que é o esquecimento absoluto e a
esse belo azar que acaba por ser a recordação. Bom.