segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Segunda, 28.

Foi bonito de ver milhares e milhares de pessoas gritando pela Ucrânia. Embora só possa oferecer lágrimas e palavras, comecei o dia de ontem assistindo a missa em favor da Ucrânia e da sua gente. No meio da multidão, muito oportunismo político-partidário com os principais líderes dos partidos que convocaram a manifestação a sobrevalorizar atitudes e bênçãos em que não acreditam e sempre combateram em sentido contrário. Bom. Hoje está agendada uma reunião entre a Ucrânia e a Rússia na fronteira do inimigo bielorrusso. O heróico Presidente diz não acreditar num bom resultado e tem razão. O seu trabalho e resistência, não deve ser desconsiderado por um louco e assassino. Nesse entretanto, o barulho dos canhões não vão parar, talvez até se intensificarão aproveitando a expectativa do encontro. No meio da contra-informação reinante, apenas se sabe com certeza, é que Kiev não caiu, contradizendo a expectativa dos comunistas portugueses que diziam – a exemplo da Crimeia – que o país passava para as mãos do ditador em dois dias. 

         - Neste entretanto, muita coisa se sabe sobre a desumanidade e crueldade dos camaradas invasores. Por exemplo, que fizeram vomitar dos aviões uma chusma de brinquedos – telemóveis, pequenos carros, bonecas, etc. – destinados às crianças, mas imagine-se!, prontos e explodir-lhes nas mãos. Mais: que encarregaram soldados russos de vestir a farda ucraniana, misturando-se com os militares naturais e assim comporem uma segunda fila de ataque. Para não falar das milícias, pagas e de uma barbaridade incrível, espécie de espiões prontos a tudo. 

         - Apesar da disparidade de forças desta guerra idiota, ela não deixa de ser também uma peleja fascista, de superioridade elitista, que o ditador Putin julgava ser a feijões. Não obstante o drama dos deslocados somar já vários milhões (dentro e fora da Ucrânia), o facto é que a loucura do ditador e seus oligarcas, está a sair-lhes pela culatra. Repare-se: a União Europeia, enfim, tarde e a más horas, uniu-se e começou a agir de uma forma concreta e urgente, enviando material bélico, tomando acções imediatas para favorecer os esforços dos ucranianos e, pasme-se!, a senhora Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, acaba de propor o estatuto de país candidato à Ucrânia ou seja a entrada na Europa dos 27, isto independentemente das acções económico-financeiras, cancelamento de contas bancárias da máfia putiana, interdição de entrada dos seus pomposos jactos privados no espaço europeu, navios, e troca de pagamentos pelo sistema SWIFT que eu pessoalmente há semanas beneficiei e confirmo a eficácia. Dir-me-ão e com razão: a Rússia teve tempo para se prevenir e injectar milhões de rublos no sistema bancário. Eu sei, foi outro erro dos EUA e da UE. Por isso, nunca acreditei nas sanções deste tipo e sempre considerei que era pela força que as coisas se deviam orientar. Pelo simples facto: Putin, sendo primário, não conhece outra alternativa e louco e obstinado como é (anteontem lançou a ameaça da bomba nuclear). Se me perguntam se creio nisso, eu direi que sim, acredito que ele é capaz de incendiar a terra como fizeram os americanos em Hiroxima. Um velho de setenta anos, destravado mentalmente, com aquele rosto a pomadado, aqueles olhos de águia de rapina, aquela pele de coco, aquele olhar vedado à sensibilidade, instigado e sentindo-se derrotado, é capaz de tudo. O país conheceu através da sua história, da Rússia Ksarista à construção do bolchevismo e do marxismo, homens furiosos, psicologicamente tresloucados, desumanos e para quem o seu irmão estava sempre abaixo das suas loucuras idealistas, das formulações políticas. A propaganda nunca os largou e a Europa saída da II Grande Guerra, apanhou com o lastro bolchevista que encantou intelectuais e operariado, até à primeira metade do século passado. Cnach6o, c3p Putin. 

         - Tanto tenho para desabafar, atirar para fora o que me pisa o coração que, se quisesse expor-me completamente e contar a dor profunda que esta questão ucraniana me causa, julgo que teria de rasgar primeiro a minha tradicional reserva e por fim todo eu voltado do avesso, exibir a ira e revolta que me esmaga de tristeza.   

         - Encontrei esta tarde na Baixa um velho conhecido que se atrelou a mim não para falar dos infelizes ucranianos, mas para desabafar do possível rombo financeiro que a guerra vai causar à sua sólida posição bancária. Sem paciência, atirei: “Olhe goze o que tem porque se Putin utilizar a arma nuclear, toda a sua riqueza e mais os bancos que a guardam, fica reduzida a cinzas.” Ia-lhe dando o chilique (ou falico no português da impagável Madame Juju).  

         - Avistei, igualmente, um velho amigo dos tempos do MDP/CDE indignadíssimo com a investida da máfia autocrática russa. Disse-me que não entende a posição do seu partido e assegurou-me que muitos simpatizantes e membros do PCP estão a entregar os respectivos cartões. Respondi: “Sabes, o PCP por este andar passa a ser o partido do táxi.” Riu-se.