terça-feira, fevereiro 15, 2022

Terça, 15.

O estudante de Ciências, de seu nome João, que a PJ foi buscar a casa um dia antes do ataque “terrorista” que planeava levar a cabo, só encontrou no quarto do arguido o seguinte armamento bélico: pequenas botijas de gás, facas, dardos e flechas! Nem ao menos um plano foi encontrado que desse consistência ao imenso trabalho dos agentes. O que eu concluo daqui, é que o nosso João é um revolucionário romântico. Para se curar desses sonhos, apareceu já a turbamulta dos inefáveis psicólogos e psiquiatras que lhe vão tratar da saúde mental. Está num hospital-prisão, mas os agentes policiais estão cá fora!  

         - Esta noite fui acordado pelas duas horas com a história do cangalheiro que não estava prevista entrar no romance. Voltei a adormecer, mas o meu cérebro prosseguiu a tal ponto que hoje, na viagem que me trouxe de Lisboa a Palmela, me perdi completamente na efabulação que havia começado a desenvolver esta manhã e ficara consignada em 12 linhas. O problema é que tendo ido a Campo d´Ourique comprar queijo para a raclette que conto oferecer, sábado, aos meus cinco convidados, cheguei à estação Roma/Areeiro faltavam quinze minutos para a partida. Vejo chegar um comboio e entro nele, desejoso de me sentar para me ocupar da senhora Mimi, esposa de Florido, que tem loja funerária na Rua Joaquim Couto e confina com a grande Praça Borges Coelho. Fui por aí fora sem tocar o olhar nas terras e paragens, integralmente mergulhado na sequência da história. Até que a dada altura me vejo só, o Fertagus parado e a voz de um africano que me toca no ombro: “Irmão, para onde vai? Palmela. Este volta para Lisboa é o próximo que vai até lá.” Devo ter feito uma cara abrutalhada, porque o simpático rapaz explica-me que aquele trem termina ali a viagem. “Para Palmela tem que montar aquelas escadas ali, atravessar a estação e do outro lado pegar a linha 1 e acrescentou: mas despache-se porque o comboio chega daqui a quatro minutos.” Aí vou eu pedindo à perna que os rapazes acham o máximo e arquitetam sonhos que não ouso contar, que puxe pela outra que as raparigas acham mimosa e enternecedora e onde se pudessem depositariam um beijo repenicado, e ambas conduzidas pelo meu cérebro doido de divagar, arribo quando a carruagem está a parar na gare. Entro como um vulcão numa divisão pestilenta de corpos suados, à cunha, pedindo aos deuses que não me tragam nas duas estações que me separam de casa nem Mimi nem Florido e o filho destes que a minha mente maluca entretanto decidiu associar à narrativa.