quinta-feira, fevereiro 03, 2022

Quinta, 3.

No espesso volume das 422 cartas trocadas entre George Sand e Gustav Flaubert (correspondência luminosa de dois grandes escritores), por vezes, ela parece não perceber a natureza e os sentimentos do amigo. Flaubert vive desesperado, os amigos mais próximos vão morrendo, a Comuna instalou-se e ele detesta os republicanos que a exaltam na Assembleia Nacional, a mãe falece, e em cartas pungentes ele derrama a solidão que abala o coração da amiga, Croisset é um refúgio de onde ele não quer sair para ir ao encontro de outros artistas e, sobretudo, dela que lhe responde ao seu jeito, em 26 de Outubro de 1872 : “Eh bien, pourquoi ne te marierais-tu pas? Être seul, c´est odieux, c´est mortel, et cruel aussi pour ceux qui vous aiment. Toutes tes lettres sont désolées et me serrent le coeur. N´as-tu pas une femme que tu aimes ou par qui tu serais aimé avec plaisir? Prends-la avec toi.” Ele responde-lhe numa longa carta (330): “Quant à vivre avec une femme, à me marier como vous me le conseillez, c´est un horizon que je trouve fantastique. Porquoi? Je n´en sais rien (em itálico). Mais c´est comme ça, expliquez le probleme. L´être féminin n´a jamais été emboîté dans mon existence. Et puis, je ne suis pas assez riche. Et puis, et puis..." Nas reticências, reside todo o mistério que Flaubert quis que Sand descobrisse (pag. 467, 470). 

         - Eu que ando a leste de tudo, fui informado esta manhã pela Piedade, que sua excelência o senhor primeiro-ministro contraiu SARS-CoV2. Rápidas melhoras, ilustre personagem. 

         - Terminei o trabalho de acrescentar a terra que veio do fundo da quinta nos canteiros de hortênsias. Preparei dois grandes vasos para plantar pés de morango. 

         - Entre leituras e escrita o tempo esvai-se na doce melancolia do dia pardacento: paisible in tranquilittate.