quarta-feira, fevereiro 09, 2022

Quarta, 9.

Ontem estive sem acesso à Internet porque um craque moderno e virtual, decidiu atacar a Vodafone onde estou domiciliado. Vai daí não se perdeu nada. E no entanto esbanjei um dia que poderia ser útil à humanidade, na medida em que cada gesto e timbre de voz pessoal, é um elemento essencial ao provir dos outros... Bref. Passei-o inteiro em Lisboa, tendo começado por ir ao C.I. fazer duas compras e de seguida ao encontro do João à Brasileira para um almoço no seu restaurante preferido, onde se come mal e para o que nos oferecem, caro. Todavia, o simples facto de estar com o meu amigo por quem tenho grande estima, hoje muito mais livre e corrigido dos ímpetos totalitários, é um prazer que me enche de satisfação.  Falou-se de tudo um pouco, mas como dois gentlemen no ripanço da idade, almoço arrastado e vivo. Dali tornei ao C.I. porque o João queria encontrar a moldura ideal para o original que comprou ao Carlos Soares. Regressámos a Av. de Roma, ele para casa, eu para tomar o comboio de volta a Palmela. A tarde ainda ardia de calor, do Inverno passáramos ao Verão e, devido ao estímulo da refeição, tínhamos cede. Sentámo-nos numa esplanada perto da estação. Foi quando houve um ligeiro frisson, ao ouvi-lo dar razão a Putin na loucura do ditador em avançar sobre a Ucrânia, invocando um tratado do tempo de Bush que limitou a presença da NATO às portas da Rússia. Onde é que isso vai! Putin que entretanto invadiu e instalou-se na Crimeia, não admite à Ucrânia que seja um país soberano e, portanto, com direito a escolher os aliados que lhe convenham. Admito que sou impulsivo ante injustiças e negociatas partidárias e ideologias totalitárias, mas nunca deixo de falar aos meus adversários e, no caso do João Corregedor, já estivemos mais longe um do outro, mas a amizade e camaradagem de antigamente aproximou-nos. A dado momento, ele falou de um artigo que está a escrever, dando-me conta em linhas gerais e logo eu: “Esse artigo até parece escrito por um tal Helder de Sousa.” Riu-se, satisfeito.  

         - Avancei hoje mais um pouco na limpeza do jardim com a roçadora. Terminei a transpirar como um qualquer trabalhador do campo. Subi a tomar um duche quente e desci para me entregar à ociosidade folheando um livro de arte. Por hoje basta! Nada de política. Costa medita, entrou nos jogos de poder, organiza o seu staff. Marcelo observa de longe, e já voltou para botar discurso sobre tudo e nada. Que praga, hei! Excelente manhã de trabalho no romance.