terça-feira, março 01, 2022

Terça, 1 de Março.

O bailado da guerra continua: sexto dia. Tal como se previa, do encontro de ontem não resultou o fim da batalha. Entretanto, milhões de ucranianos chegam à Polónia que os acolhe com dignidade e acode às suas necessidades. Estão bem entregues. Eu conheço o país, sei como os polacos são crentes, como as suas vidas estão pregadas à vida do Senhor. Por outro lado, eles foram vítimas das políticas extremistas da Rússia e ainda hoje as duas principais cidades – Varsóvia e Cracóvia – exibem o rosto mortificado do passado. A Ucrânia, então província da União Soviética, foi invadida pelos nazis e milhões de ucranianos judeus foram mortos cumprindo o plano de extermínio de Hitler. A Polónia seguiu-lhe o rasto sangrento e quem visitou alguma vez Auschwitz fica marcado para sempre. Por isso eu compreendo a resposta que Volodomir Zelensky deu a Putin. Este baralhando, miseravelmente, a História, tentou reescrevê-la passando os ucranianos para o lado dos nazis. É infame, revoltante, indigno. A verdade com esta guerra, fica diante dos olhos de todos: a Rússia de Putin e dos seus mafiosos, é dos países mais pobres e oprimidos do mundo. Como me dizia o Carmo ao telefone, “aquilo já nem comunismo é”. E tem razão. É putismo, ou seja, a república dos mafiosos, com imensa fortuna nas mãos do ditador e dos seus apaniguados. Todos corroídos e com os pés para a cova, mas gananciosos, criminosos, sôfregos e ébrios da bebedeira da loucura e do suicídio que os espera. 

Galeria dos uniformes dos presos no campo de Auschwitz, quantos pertencerão a ucranianos?  Esta dramática foto, não a quis publicar eu quando lá estive. Sr. Putin com a vida humana não se brinca. 

         - Todavia, eu espero que definitivamente o mundo e sobretudo a Europa onde nasci e vivo, passe a olhar a Rússia com olhos mais severos e menos candura. Depois desta guerra, nada será como antes – Putin cavou o seu isolamento e dos seus concidadãos. A propaganda comunista com louvores a Marx, Lenine e Estaline, deve ser apeada da mentira que iludiu os povos incrédulos e inocentes. O comunismo vinga onde medra a pobreza, a iliteracia e a rapacidade do grande capital egoísta e insano. (A este propósito, que queria o PCP, em Coimbra, numa reunião de simpatizantes ou simples cidadãos, dizer com aquela de o comunismo ser como o cristianismo!) Até o Cazaquistão declinou o pedido da Rússia para entrar na ofensiva e pior ainda não reconhece os estados da Ucrânia Oriental, segundo noticiou a NBC News. Tenhamos esperança. Quando o futebol não se deixa manipular e a FIFA anula jogos e campeonatos onde a Rússia devia entrar, jogadores exibem de que lado estão no final das partidas levantando a voz em glória do país de Zelensky, é porque o mundo, em fases críticas como a que atravessamos, acorda em favor da paz e da dignidade e soberania de cada povo. 

         - Terminei a correspondência Sand/Flaubert que havia começado a ler em Novembro, em Paris. Tal como o Diário póstumo de Green, este é um tipo de leitura, pese embora as mil e tal páginas, que se deve saborear e daí os longos meses de prazer. Justamente, hoje mesmo, a páginas 740 de Toute Ma Vie (vol. 3), optei por ler apenas 10 folhas por dia, de modo a estender em inflamadas horas de regozijo as 292 páginas que me faltam para chegar ao final. 

         - Em verdade, desde que fui sacudido pela entrada do exército moscovita na Ucrânia, não tenho conseguido trabalhar no romance. Esta amanhã, forcei-me a fazer a revisão das últimas 10 folhas e por aí me fiquei. Felizmente que a leitura me acompanha, de contrário não sei o que seria de mim. Experimentei há instantes proceder ao arranque das silvas em torno das laranjeiras; consegui aos ais contra Baker, mesmo diminuto devido ao gelo, continua a morder-me. Resultou que dei violentas machadadas nas raízes sólidas das silvas com a impressão de as dar no lombo de Putin que era quem pensava, ao ponto de ter cortado o tubo da rega automática e não sei se vou ter de montar um novo. Irra! Até aqui o homem faz estragos! Para repousar, vou ler revistas e artigos de jornal. Coisas ligeiras.