quarta-feira, março 23, 2022

Quarta, 23.

Por muitas cambalhotas que os comunistas dêem, a evidente aceitação da invasão da Ucrânia é por eles louvável. O argumento é sempre o mesmo: os EUA e a NATO de que a Rússia foi cofundadora, são ameaça à estabilidade do regime de Putin. Com os comunistas, há sempre um “mas” que orienta os seus projectos expansionistas, que o diga o ex-deputado João Oliveira e subscritos pelo Avante. Depois, a geração mais nova, sem fugir aos mandamentos impostos pelo partido, larga pareceres como este emitido pelo mais jovem e credível de entre eles, João Ferreira, declarando que “o PCP faz uma declaração clara e inequívoca da violação da integridade territorial da Ucrânia é, à luz do direito internacional, inaceitável e merece condenação”.  Há sempre demasiados “mas” na oratória comunista. Eu prefiro os “ses” de António Barreto numa recente crónica. 

“Se a Europa souber lutar eficazmente contra a corrupção, contra os políticos predadores e contra os bandidos bilionários, indígenas ou estrangeiros, que têm estado na vanguarda da pior Europa que se imagina, a que facilmente troca a moral e a lei pelo ouro.”

“Se a Europa e os europeus souberem organizar-se mental e politicamente para se defender dos grandes poderes que os cercam e se podem transformar em ameaças, o poder americano, os exércitos russos, o terrorismo islâmico, a indústria chinesa e a imigração africana.” 

“Se a Europa souber respeitar o melhor da sua história, a sua cultura, e a sua melhor história, a da liberdade.”

“Se os europeus souberem e quiserem, farão uma Europa . Livre e em paz.” 

         - Para aligeirar o peso da morte e, sobretudo, da ausência, passei muitas horas no meu quarto de adolescente na Foz a ler. Deste modo, terminei o terceiro volume do Diário de Julien Green, aquele que nos anuncia a chegada de Jean-Éric Jourdan mais tarde filho adoptivo do escritor com o nome de Éric Jourdan Green. Como eu sempre previra, a ligação dos dois homens, ou antes a união de Green com o adolescente, segundo o herdeiro da obra de Éric e por tabela de Green, Tristan de Lafond, terá acontecido num daqueles encontros de rua que Julien teve com centenas de jovens. Aliás, os amigos e visitantes ocasionais do escritor, rue Vaneau, citando Lafond, “venus avec l´espoir d´entendre de la bouche même du maître ce qu ´il avait à dire, et non pas de celle de sa Pythie, aussi talentueuse fût-elle (os gregos não diriam melhor)”. Mauzinhos... 

         - Por todos estes dias, chuva q.b.. Vou daqui a nada ao dentista experimentar a prótese definitiva. A vida, enquanto força criadora que gera a substância essencial de alento, vai a pouco e pouco empurrando o desespero para dar lugar à força que tudo regenera. Reina ainda uma certa lassidão magoada, mas à superfície de mim, sinto ressuscitar os pequenos salmos que consubstanciam a unidade deslaçada.