quinta-feira, março 03, 2022

Quinta, 3.

Tenho esperança que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia encontre uma qualquer saída com dignidade para o Presidente Volodomir Zelensky. Soube-se ontem que alguns generais russos, preveniram o Governo de Kiev que se preparava em solo ucraniano, o assassinato do Presidente. A polícia seguiu a pista fornecida e liquidou quase todos os soldados prontos para a bárbara acção; alguns fugiram, as buscas para os encontrar prosseguem. 

         - Recomecei a tortura que havia interrompido há meses. Na sessão desta manhã, foi robustecida a ferraille do maxilar superior. Dores insuportáveis, alívio uma hora depois, mas complicação para mastigar. Tenho ainda mais cinco consultas até poder respirar de alívio (assim espero) e exibir definitivamente a fieira de dentes à Hollywood. 

         - Em cascata os dias foram passado sem que eu tivesse tocado o seu brilho. Há oito dias que agonizo, olhando inconformado o que me é oferecido quando me sento confortável no sofá. A guerra vem ao meu encontro, vejo-a como se fosse um filme, não acreditando na realidade palpável, a mente lassa, o corpo afundado na desesperança. Toda a actividade – comer, deslocações, leituras, escrita, dormir e acordar – parece sair da sonolência de uma grande noite de trevas e prenunciações. Quantos rapazes com pouco mais de dezoito anos, estão presos na coluna de tanques, olhando há semanas a paisagem coberta de neve, as suas vidas paradas, os seus corpos jovens solicitando o amor na forma aventurosa que acompanha a loucura feliz dos dias desdobrados de aventuras. Merecem eles aquele pesadelo? Estarão eles condenados a colaborar numa injustiça e a morrer pela loucura de um só homem, numa batalha idiota, sem razão de ser, construída na cabeça de um psicopata, que quer reescrever a história para ficar nela como o guerreiro dos tempos modernos, aquele que faz e refaz o Império, para o deixar na pobreza extrema, na liberdade sufocada, com milhões de escravos a trabalhar para a elite oligarca que tem na riqueza a sua principal e única razão de existir? Aqueles corpos que nem direito tiveram às noites claras dos amores impossíveis, dos lábios unidos numa prece, na sensação que raspa a pele quando abandonada às noites imaculadas da rendição das auroras setentrionais. E o pior de tudo, é que morrem sem causa nenhuma.