quarta-feira, março 16, 2022

Quarta, 16.

Acabei de chegar da Foz depois da missa do Sétimo Dia consagrada à memória da Maria Luísa falecida na noite de 9 para 10 deste mês. A minha irmã a quem me uniam laços não só fraternos de família como de cumplicidade de vida e amizade profundas, tinha entrado no hospital de S. João quatro dias antes, com um quadro complicado que juntava uma infecção urinária à falência cardíaca. Quando foi internada, feita a análise, não tinha covid-19, mas contraiu depois a doença que, estou certo, acelerou a sua morte. Dizia-me a minha sobrinha que foi para a mãe um alívio, dado que nestas derradeiras semanas o sofrimento era atroz. Todos nós somos crentes e sabemos onde ela se encontra e quando chegar a nossa hora nesse lugar haveremos de nos juntar. Esta certeza, torna a morte uma imensa e luminosa felicidade. A saudade e a dor saem enriquecias da fé que nos aguenta ligados. 

Pessoalmente, se pudesse, fugiria daqui. A casa parece-me gélida, oca, cheia dos múrmuros sinistros que levam e trazem sem descanso as memórias. Nunca entrevira este insuportável vazio, eu que sempre a tive como o lugar barricado às intempéries da vida. Desaparecidos os nossos pais e agora a minha irmã, reduziu-se o número chegado daqueles que por consanguinidade nos suavizam os sofrimentos. Que restem os amigos quando os hajam.