terça-feira, novembro 20, 2018

Terça, 20.
Grandes tumultos continuam nas estradas francesas. Houve mais uma morte. O Governo de Chou Chou veio dizer à televisão que não cede. Na verdade, ele conta - como já aconteceu e é técnica do Presidente -, com o desgaste dos manifestantes e a ira dos condutores. O primeiro-ministro apontou os benefícios que majestaticamente tem distribuído pela população, esquecendo-se de informar o que tem retirado. Porque a governação à Centeno é essa: finge que dá – e às vezes dá -, mas tira por outro. Nós portugueses somos cobaias neste como em muitos outros aspectos para a Europa de Bruxelas. As pessoas não são estúpidas. Com o tempo apreendem as aldrabices e reagem em consonância. Sindicatos e partidos, postos de fora.

         - É para mim incompreensível a ganância que leva pessoas em fim de vida a quererem mais e mais. É o caso do presidente da Nissan-Renault, Carlos Gohosn. Acaba de ser detido no Japão por fuga ao fisco. A criatura ganha por ano quase 15 milhões de euros! Não satisfeito, ainda utiliza as firmas na compra de bens pessoais. Felizmente que no Japão ou na China não brincam às leis, nem aos advogados, nem aos tribunais.  Os poderosos vão parar com os costados à prisão e não há quem os salve. Um exemplo para esta Europa corrupta e decadente, que o euro ajudou a afundar ainda mais na miséria moral e social.

         - Fomos ontem à noite ao TGP ver a peça escrita pelo encenador Jean Bellorini em colaboração com Camille de la Guillonnière, Un instant, extraída de A la Recherche du Temps Perdu. Toda a obra de Proust, como se sabe, é uma intensa, profunda e desdobrada memória da vida do seu autor e da sociedade dos finais do século XIX e princípios de século XX. Muitos jovens na sala. Quanto ao trabalho do encenador, diria que a concepção dos cenários me atraiu, a representação dos dois actores em cena foi esforçada, mas o texto deixou-me muitas dúvidas. A obra de Proust é para ser lida na intimidade de cada página, de cada palavra. Transportada para o palco – aquela pelo menos – é um monólogo chato, sonolento, desinteressante. O camarada do meu lado esquerdo, com uns 17 anos, adormeceu.


         - Anunciaram-nos neve para hoje, mas ela caiu em pequenos flocos sem o deslumbre habitual. Estamos com um grau.