Quarta, 14.
Sim,
o silêncio propaga um murmúrio sem fim. Mesmo uma cidade como Paris, mergulha num
rumorejo a partir das onze da noite. Quando anteontem viemos depois da
meia-noite de regresso a casa e atravessámos uma das maiores ruas da cidade, a rue
de Vaugirard, République, Champs Élysées, contornámos o Marais, para entrarmos
mais adiante no périphérique, por todo o lado a cidade mergulhara no sossego do
campo, com seus bairros onde não se via vivalma, nem luzes nas janelas, nem
nenhuma espécie de vida. Paris acoitada debaixo das estrelas, irradiando miríades
de luzes por todo o lado, era uma sombra de si própria. Lisboa é mais agitada
que esta capital do império que recusa deixar o Século das Luzes. Todo o
mistério da cidade escondia-se nos subúrbios do espanto.
- Dia luminoso o de ontem. Com o
Robert fomos admirar Paris do lado do Sena. Era um projecto que há muito queria
realizar. Tomámos um barco em Hôtel de Ville, sob um sol de inverno apetecido
depois dos dias de chuva, embarcámos num batobus
para duas horas e meia de passeio. Das águas tivemos uma vista
absolutamente maravilhosa, num Outono subitamente resplandecente, com as cores
que o vestem e iluminam os nossos olhos. Nas margens do rio que atravessa
Paris, vimos o Louvre, Champs Élysées, a Tour Eifel, Musée d´Orsay,
Saint-Germain-des-Prés, Notre-Dame, Jardin des Plantes, concluindo no sítio
onde começámos. As imagens que aqui deixo, falam mais e melhor que toda a
construção linguística que um pobre escritor ou um guia turístico pode
ordenar.
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As margens do Sena |
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A Conciergerie |
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Estátua equestre de Henry IV |
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Pont Neuf com Torre Elfel ao fundo |
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O Outono com suas cores reflectidas no Sena |
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Notre-Dame |
- Terminada a viagem, convidei o meu
amigo para um chocolat chaud. O frio
do rio enregelou-nos um pouco e um pequeno bistro do Marais devolveu-nos o
calor dos instantes vividos. Era um café tipicamente francês, frequentado por
locais, onde passámos uma meia-hora de riso e boa disposição. Momentos assim incrustam-se
na memória e são ao longo dos anos, sobretudo em ocasiões menos felizes, um
apelo à santificação da felicidade traduzida no equilíbrio e na esperança.
- Hesito em ir passar o fim-de-semana a Estrasburgo a convite de Lionel.