Domingo, 18.
A
convite do Francis encontrámo-nos num bar para duas horas de conversa. Homem de
grande cultura, estar com ele é sempre uma boa massagem de sabedoria e paixão
pela história e a literatura a par do fait
divers indispensável. Falando de Napoleão III a sua grande predileção,
comungando eu com ele do muito que o Imperador fez pela França e pela Europa,
não consigo aceitar, contudo, uma parte da sua acção. Nomeadamente o ele ter
escorraçado os pobres do Quartier Latin de uma forma desumana, para erguer, em
colaboração com o seu arquitecto o barão Haussmann, com poder absoluto, aquilo
que ainda hoje admiramos em toda a rive
gauche. Francis justifica a actuação de Napoleão, com o facto de no século
XIX a zona estar completamente infectada da epidemia de cólera e toda a imundice
em que viviam os seus habitantes. Oposição manifestei eu também relativamente a
Victor Hugo que teve de expatriar-se por não concordar com o monarca. Mas o meu
amigo contrapõe as posições do filho do escritor e a trama complicada em torno
dos negócios com Inglaterra, a obsessão de Napoleão em desenvolver o país com o
caminho de ferro, as ligações a Espanha, etc. etc.. De súbito, mudando de
assunto, diz em voz alta do seu apreço pelo rapaz de cor que nos serviu um
álcool azulado à base de ervas, olhos sorridentes, rosto simpático, “que possui o
melhor cu das redondezas”. Como sabes tu essas intimidades?, pergunto. “Todo o
mundo o adora.” Bom. A sala riu, ninguém se indignou, muito menos o negro.
- O dia acordou ainda mais gélido. O
jardim e os carros cobertos de um lençol alvo. Anunciam-nos para os próximos
dias entre 1 a 4 graus centígrados. Resta-nos o sol claro que pouco aquece, mas
dá-nos o prazer da sua presença.
- Na Califórnia aumenta o número de
mortos no incêndio assustador que já consumiu milhares de hectares e centenas
de casas e fez mais de mil desaparecidos. Aquilo tem mão criminosa, embora as
alterações climáticas tenham também contribuído. As imagens que vemos na
televisão são impressionantes.
- Os que ontem desceram às ruas para
enfrentar Chou Chou e as suas políticas, não desarmam. Estão em menor número,
mas ainda assim sólidos nos seus postos – auto-estradas, portagens,
gasolineiras – inclusive com uma tralha alimentar para vários dias
impressionante. Os franceses não se deixam intimidar, são arrojados, os
governos têm forçosamente de contar com eles.