domingo, novembro 18, 2018

Domingo, 18.
A convite do Francis encontrámo-nos num bar para duas horas de conversa. Homem de grande cultura, estar com ele é sempre uma boa massagem de sabedoria e paixão pela história e a literatura a par do fait divers indispensável. Falando de Napoleão III a sua grande predileção, comungando eu com ele do muito que o Imperador fez pela França e pela Europa, não consigo aceitar, contudo, uma parte da sua acção. Nomeadamente o ele ter escorraçado os pobres do Quartier Latin de uma forma desumana, para erguer, em colaboração com o seu arquitecto o barão Haussmann, com poder absoluto, aquilo que ainda hoje admiramos em toda a rive gauche. Francis justifica a actuação de Napoleão, com o facto de no século XIX a zona estar completamente infectada da epidemia de cólera e toda a imundice em que viviam os seus habitantes. Oposição manifestei eu também relativamente a Victor Hugo que teve de expatriar-se por não concordar com o monarca. Mas o meu amigo contrapõe as posições do filho do escritor e a trama complicada em torno dos negócios com Inglaterra, a obsessão de Napoleão em desenvolver o país com o caminho de ferro, as ligações a Espanha, etc. etc.. De súbito, mudando de assunto, diz em voz alta do seu apreço pelo rapaz de cor que nos serviu um álcool azulado à base de ervas, olhos sorridentes, rosto simpático, “que possui o melhor cu das redondezas”. Como sabes tu essas intimidades?, pergunto. “Todo o mundo o adora.” Bom. A sala riu, ninguém se indignou, muito menos o negro.

         - O dia acordou ainda mais gélido. O jardim e os carros cobertos de um lençol alvo. Anunciam-nos para os próximos dias entre 1 a 4 graus centígrados. Resta-nos o sol claro que pouco aquece, mas dá-nos o prazer da sua presença.

         - Na Califórnia aumenta o número de mortos no incêndio assustador que já consumiu milhares de hectares e centenas de casas e fez mais de mil desaparecidos. Aquilo tem mão criminosa, embora as alterações climáticas tenham também contribuído. As imagens que vemos na televisão são impressionantes.


         - Os que ontem desceram às ruas para enfrentar Chou Chou e as suas políticas, não desarmam. Estão em menor número, mas ainda assim sólidos nos seus postos – auto-estradas, portagens, gasolineiras – inclusive com uma tralha alimentar para vários dias impressionante. Os franceses não se deixam intimidar, são arrojados, os governos têm forçosamente de contar com eles.