Chou
Chou promovendo-se à conta dos mortos da Primeira Grande Guerra. Grandes
cerimónias com sessenta Presidentes da República (não vi o da China) do mundo
inteiro. Paradoxalmente, aquele que dias antes incentivou à criação de um
exército (do euro, imagino) pronto para defender a Europa da Rússia, dos
Estados Unidos e da China, é o mesmo que convida os seus dirigentes a festejar
o centenário de uma guerra mundial. Uma idiotice, sim, mas um grande actor interpretando
convincentemente o bom texto que outro escreveu (a Françoise diz-me que é ele
que os escreve). Um banqueiro sabe de escrituração, um escritor da arte de
pensar e escrever. Um exemplo: Cavaco Silva, óptimo contabilista, culturalmente
uma nulidade. Mil vezes melhor Marcelo Rebelo de Sousa.
- 24h,26 m. Acabo de entrar de um agradabilíssimo
jantar em casa da Françoise. Ela tinha chegado da sua residência de praia, em Biarritz,
cheia de vigor e speed político. Por
isso a discussão centrou-se em Macron e ela pareceu-me, enquanto socialista,
mais atiçada que o João Corregedor, homem de esquerda. Mas todas estas
discussões e calores não devem ser levadas a sério e a amizade impera por sobre
tudo o que nos divide. Conheço sobejamente bem o género para descer à cave dos
meus conhecimentos e levantar da poalha os argumentos capazes de derrotar as
convicções pouco consistentes. Afinal de contas, com os franceses de uma certa
classe, aisée, o que importa é a polémica, a troca não de ideias, mas de palavras, a
camaradagem que o convívio fornece e flui pelo avançado da noite, o vinho de
champanhe embalando.
- Robert e a mania de tudo fotografar. Esta
noite a minha pessoa onde os anos parecem querer demorar-se.