Sexta,
23.
Aller! Sai da fossa e levanta o futuro!
Pensa que fizeste o melhor que sabes, sem cedências nem pactos morais ou
políticos, levado pelo penhor da arte que não se ajoelha diante de ninguém nem
do seu próprio criador.
- Lanche ajantarado em casa da Eliette,
rue Saint Honoré. O apartamento fica entre o Louvre e o Palais Royal, numa zona
muito animada, antiga, com restaurantes por todo o lado, lojas chiques e
clientela aisée. Como o vinho de
champanhe encheu o serão, eu soltei-me e disse provavelmente imensos
disparates. Que importa. Acresce que tinha acabado o romance na véspera e
encontrei quando ia a caminho uma loja de fotocópias. Entrei e perguntei quanto
me custaria a impressão das quase trezentas páginas. Surpreendido com o valor,
não hesitei e em cinco minutos tinha a minha criança nos braços (em Lisboa, por
idêntico trabalho, paguei mais do dobro). A reunião durou até tarde, cinco
pessoas têm muita coisa para dizer, não é verdade. Fazia um frio gélido e o
metro estava àquela hora à cunha. Quando entrei em casa e, sobretudo, no meu
quarto bem aquecido, rejubilei de contentamento e por momentos deu-me vontade
de retornar ao mesmo lugar, olhar como uma criança sonhadora as luzes, as mil
luzes que encandeiam de felicidade o parisiense que cada vez mais sou.
- Bain de bouche, traduz para a nossa língua o elixir para bochechar
a boca, e lembra na sua composição duas palavras um jogo de bambino.
- Os Gillets Jaunes como chamam aos que bloqueiam estradas e acessos às
cidades, não desistiram. Para este fim-de-semana, parece que contam com a
participação dos camionistas. Se assim for, Chou Chou perdeu em todas as
frentes.